26.6.08

SJM garante que ‘grandes investidores’ asseguraram viabilidade de Oferta Pública Inicial (OPI)
Aposta ganha

A Sociedade de Jogos de Macau Holdings diz ter já recebido propostas para a aquisição - na totalidade - dos 85 por cento das acções destinadas aos chamados ‘grandes investidores’. A ‘entrada’ na bolsa deverá acontecer a 10 de Julho, apesar das ameaças de impugnação da parte Winnie Ho, a irmã do magnata do jogo Stanley Ho

Alfredo Vaz
em Hong Kong

“As acções foram subscritas na totalidade.” Ambrose So, CEO da SJM Holdings, fez o anúncio na parte final da sua intervenção de uma conferência de imprensa que decorreu ontem em Hong Kong para apresentação da oferta pública de venda de acções da empresa.
A afirmação de So foi subtilmente proferida quando os representantes da empresa davam por encerrado o encontro com imprensa: não no seu início e ‘sem pompa ou circunstância’. E – estrategicamente - quase apanhou de surpresa boa parte da audiência.
O CEO da SJM Holdings afastou também cenários de um eventual colapso de toda a operação face às ameaças de Winnie Ho em processar judicialmente a SJM SA - percussora da nova companhia - assegurando que o processo de listagem na bolsa tem o aval das entidades reguladoras: “ a oferta pública inicial é desde logo um garante de transparência de processos”, disse o empresário.
A SJM espera arrecadar na operação entre 3,85 mil milhões e 5,1 mil milhões de dólares de Hong Kong, mas estes valores devem ser ultrapassados, tendo em conta os primeiros indicadores.
O processo de subscrição decorre até ao próximo dia 2 de Julho, e a Sociedade de Jogos de Macau está a oferecer 25 por cento das suas acções do capital aumentado da empresa ou 1,25 mil milhões de novas acções a investidores institucionais, particulares e empregados a um preço que varia entre os 3,08 e os 4,08 dólares de Hong Kong.
A SJM SA entra indirectamente em bolsa através de uma terceira empresa – a SJM Holdings - que adquiriu a totalidade do capital social da empresa, na proporção actual do capital social dos accionistas.
A entrada da SJM na bolsa, a única empresa de jogo a operar em Macau que ainda não está cotada num mercado de capitais, é encarada pelos analistas como um movimento que irá gerar maior transparência ao mercado de Macau.
Do capital arrecadado na operação pública de venda, a Sociedade de Jogos de Macau vai utilizar cerca de 90 por cento no financiamento de projectos e na aquisição de terrenos.
O preço das acções da Sociedade de Jogos de Macau, cuja operação de venda está a ser coordenada pelo Deutsche Bank, será fixado a 3 de Julho e a venda de acções terá início uma semana mais tarde, no dia 10.
Segundo Ambrose So, há já promessas para a aquisição da totalidade destes 85 por cento pelo que “a realidade ultrapassou as melhores expectativas.” A empresa parte agora à procura de ainda mais investidores tendo Singapura como próxima etapa.
Durante a apresentação dos detalhes da operação de venda, a Sociedade de Jogos de Macau anunciou ainda investimentos de 21 mil milhões de dólares de Hong Kong até 2012, incluindo o novo hotel e casino Lisboa que irá substituir o actual edifício.

Acções de Stanley Ho valem um dólar

A anterior estrutura da Sociedade de Jogos de Macau SA é agora espelhada na SJM Holdings. A autoridade reguladora determinou – entre outras medidas - que a totalidade do ‘prémio’ conseguido na OPI tem que ser investido na própria empresa, e que os 10 por cento das acções detidas por Stanley Ho valem um dólar de Hong Kong.
Assim sendo, o chamado Prémio de Subscrição tem de ser aplicado nos investimentos da empresa, não podendo – nesta fase - ser distribuído pelos actuais accionistas. Este mecanismo, “assegura transparência ao processo e dá garantias aos interessados de que o seu dinheiro é aplicado, o que por si só torna a OPI mais atractiva”, disse Ambrose So.
Quanto à fixação do valor de um dólar de Hong Kong para os 10% das acções detidas por Stanley Ho, fonte envolvida nas negociações disse ao PONTO FINAL que o objectivo do regulador foi “evitar eventuais negócios por debaixo da mesa e dar transparência ao processo.” No entender da mesma fonte, que optou pelo anonimato, a fixação deste montante “desmonta a estratégia, as ambições e as acusações vagas de Winnie Ho.” Instado a especificar a afirmação limitou-se a dizer que “para bom entendedor, meia palavra basta.”
Stanley Ho e a irmã Winnie, que detém cerca de 7,5 por cento das acções da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, disputam há vários anos em Tribunal uma série de questões relativas à companhia depois de no processo de liberalização do sector em 2001, Winnie Ho ter apoiado a empresa do filho contra a sua própria companhia e do irmão como candidato a uma licença de jogo. Uma das questões levantadas por Winnie Ho prende-se com a reconstituição do livro de registo de accionistas da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau que foi declarado como perdido e, segundo a irmã de Stanley Ho, é fundamental ser refeito o mais rapidamente possível tal como foi determinado pelo Tribunal.
Ambrose So desvalorizou as ameaças de Winnie Ho: “a senhora Winnie Ho levantou uma série de queixas e alegações na praça pública que não têm nada de novo. Estamos em contacto permanente com a autoridade reguladora que está plenamente satisfeita com as nossas justificações. Segundo os nossos juristas, as queixas não têm qualquer impacto legal na nossa oferta pública inicial”, garantiu Ambrose So.

“O melhor ainda está para vir”

Stanley Ho esteve ausente do encontro de ontem por se encontrar em negócios em Lisboa “reuniões que foram impossíveis de desmarcar”, lamentou o magnata do jogo numa mensagem gravada em vídeo. Stanley Ho assegurou aos investidores que “o melhor ainda está para vir.” Ho disse que os novos projectos da SJM são a prova de que empresa está apostada em aumentar a prosperidade da população de Macau: “A SJM é parte integrante do crescimento de Macau, como o foi há 40 anos a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau. Crescemos com Macau, e Macau connosco. Somos líderes do mercado e estamos certos que o iremos continuar a ser. A Subscrição na bolsa vai reforçar a nossa posição”, destacou.
Apesar das perspectivas positivas dos responsáveis da empresa, os números da operação são consideravelmente inferiores aos inicialmente previstos já que a companhia esperava arrecadar, segundo valores divulgados em 2007, cerca de oito mil milhões e meio de dólares de Hong Kong.
A SJM controla 19 dos 30 casinos em operação em Macau com 305 mesas para grandes jogadores, 1.100 mesas para o mercado de massas e 3.700 slot machines.


*****


SJM ‘aposta’ no Distrito Lisboa
Começar de novo

21 mil milhões de dólares de Hong Kong. Este é o valor da ‘aposta’ da SJM para ganhar terreno à concorrência. A companhia definiu três frentes geográficas: área do Hotel Lisboa, Porto Exterior e COTAI. A ‘menina dos olhos’ de Stanley Ho é – notoriamente – o projecto de remodelação do lendário Hotel Lisboa. Mais de metade do valor total destinado aos empreendimentos – cerca de 12 dos 21 mil milhões – será investido neste projecto. É um ‘regresso às origens’, onde há quase quatro décadas Stanley Ho começou a construir o ‘castelo’ em que solidificou o então monopólio dos jogos de fortuna e azar. Frank MacFadden, responsável pela área da cooperação e parcerias estratégicas da SJM, diz que ali crescerá a “nova alma de Macau.” Apropriadamente chamam-lhe o Distrito Lisboa, a área de 3,2 milhões de pés quadrados entre o Wynn e o Grand Lisboa. O complexo inclui a remodelação do Hotel Lisboa, o Grand Lisboa e um novo empreendimento, o L’Hermitage. O Lisboa District é a resposta à marca registada COTAI Strip. O icónico Hotel Lisboa – considerado por muitos como ‘obsoleto’ e um ‘covil de vícios’ - será dramaticamente transformado num hotel e resort vocacionado para o ‘turismo familiar’: o complexo poderá incluir apartamentos residenciais, um centro comercial para além do hotel em si. A SJM fez o convite a seis projectistas de renome mundial e os projectos deverão ser tornados públicos já no próximo mês de Julho. 31 das mesas VIP do Hotel Lisboa serão transferidas para os casinos L’Hermitage e Oceanus. O L’Hermitage localiza-se junto aos Lagos Nam Van, paredes-meias com o edifício do Banco da China. O Oceanus vai crescer no espaço onde até há cerca de um mês ‘funcionou’ o centro comercial Yaohan.
O Pérola é o segundo maior empreendimento da SJM Holdings e assinala a entrada da empresa no COTAI, uma ‘reivindicação’ antiga de Stanley Ho, sublinhada pelo magnata do jogo quando da abertura do Grande Lisboa, em Fevereiro do ano passado. Estimado em 5,3 mil milhões de dólares de Hong Kong. O casino terá 36 mesas VIP, 300 outras mesas de jogo e mil slot machines.
O complexo Pérola inclui um hotel, apartamentos residenciais de luxo, um spa e salas de conferência.


*****


Operadores de jogo reúnem a oito de Julho
SJM reitera pedido de fixação de tecto de comissões

O chamado Grupo dos Seis já tem agendada a sua segunda reunião: Governo e concessionárias do jogo vão encontrar-se no dia oito do mês que vem, naquela que será a segunda reunião desde a liberalização do sector. Ambrose So diz ter sido informado ontem de manhã por telefone pelo Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam.
O CEO da SJM Holdings voltou a defender a necessidade da fixação de um ‘tecto’ de 1,25 por cento: “Temos insistido com o Executivo na necessidade de se fixar um limite máximo do valor das comissões. No nosso entender o Governo tem que intervir para regular o sector.”
Na primeira reunião, realizada a 21 de Maio, sugiram duas propostas: uma para fixar o número máximo de mesas de jogo; uma outra para estabelecer um tecto das comissões a pagar aos chamados ‘junkets’ os promotores e angariadores dos principais jogadores – os ‘high-rollers’ – a principal fonte de receitas dos casinos.
A necessidade de se fixar um ‘tecto’ para as comissões é relativamente consensual, embora as propostas de valores variem de operadora para operadora. O valor mais alto no mercado, 1,38 por cento, é pago pela Melco PBL Entertainment (Casino Crown) à agencia de Hong Kong A-MAX. Stanley Ho propôs um valor máximo de 1,25 por cento, e o magnata acusou a Las Vegas Sands (Sands Mação e Venetian Macao) de querer inflacionar o mercado das comissões, prometendo valores na casa do um e meio por cento.
Menos consensual é a fixação do número máximo de mesas nos casinos da RAEM; no encontro de Maio Stanley Ho avançou com um limite de seis mil mesas (mil por operadora licenciada), mas acusou Sheldon Adelson, dono da Las Vegas Sands, de querer “mais 20 ou 30 mil.” Stephen Weaver, presidente para a Ásia da Las Vegas Sands Corp disse na altura que tem de haver uma relação entre a qualidade da oferta e os números da procura.”

Edições Anteriores

Arquivo

DIRECTOR Paulo Reis REDACÇÃO Isabel Castro, Rui Cid, João Paulo Meneses (Portugal); COLABORADORES Cristina Lobo; Paulo A. Azevedo; Luciana Leitão; Vítor Rebelo DESIGN Inês de Campos Alves PAGINAÇÃO José Figueiredo; Maria Soares FOTOGRAFIA Carmo Correia; Frank Regourd AGÊNCIA Lusa PUBLICIDADE Karen Leong PROPRIEDADE, ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Praia Grande Edições, Lda IMPRESSÃO Tipografia Welfare, Ltd MORADA Alameda Dr Carlos d'Assumpção 263, edf China Civil Plaza, 7º andar I, Macau TELEFONE 28339566/28338583 FAX 28339563 E-MAIL pontofinalmacau@gmail.com