30.6.08

Mês e meio depois do sismo mais devastador a afectar a China
Tudo parece normal em Chengdu

José Costa Santos *

Um mês e meio depois do sismo mais devastador a afectar a China desde o estabelecimento da República Popular, quem chega a Chengdu, capital da província de Sichuan, não vê sinais da tragédia que deixou um rasto de morte e destruição.
Os primeiros relatos de pessoas que vivem na cidade apontam para ”uns prédios que abriram brechas, mas que continuam de pé e firmes” e no caminho entre o aeroporto e um hotel no centro da cidade, quase todo feito numa auto-estrada construída em plataforma elevada, não há sinais visíveis de qualquer tragédia.
Os prédios estão, aparentemente, intactos, resistiram ao abalo sísmico.
As zonas mais afectadas, nos arredores da capital e mais perto do epicentro, localizado a cerca de 90 quilómetros de Chengdu, o cenário será bem diferente, tendo o sismo deixado milhões de pessoas sem casa e provocado milhares de mortos e desaparecidos, estimados em 90.000 mas ainda sem dados finais.
O tremor de terra de 12 de Maio foi sentido em Pequim, capital chinesa situada a cerca de 1.500 quilómetros, Xangai, em Hong Kong ou Macau, mas também em países da região asiática como a Tailândia, o Vietname ou a Mongólia.
Considerado o mais devastador da história da República Popular da China, o sismo de Sichuan, a província natal de Deng Xiaoping, o responsável das reformas e da abertura da China ao exterior, só tem comparação no país com o tremor de terra de Tangshan, em 1976, que terá provocado a morte a 240.000 pessoas.
A seguir ao abalo principal, mais de 13.500 réplicas foram registadas, a principal das quais com 6,1 graus na escala de Richter, refere a administração de sismologia da China.
A força do abalo provocou também milhares de feridos – 374.171 dizem as autoridades – e 1,47 milhões de sobreviventes das zonas mais afectadas foram deslocados de áreas consideradas perigosas e 84.017 retirados das ruínas dos edifícios destruídos pelo terramoto.
Quase 100.000 pessoas estão envolvidas nas operações de busca, salvamento e limpeza da zona afectada, onde 7,7 milhões de casas ficaram destruídas, 24,5 milhões danificadas e sete mil salas de aula foram destruídas.
O sismo de 12 de Maio também mostrou uma China diferente, mais rápida em divulgar a informação, a admitir a catástrofe e a mostrar vontade política de apurar responsabilidades perante uma tragédia que, em grande parte, poderia ter sido evitada se fossem cumpridos os padrões de segurança na construção de edifícios, como as escolas que ruíram por completo.
Os números da tragédia vão aumentando de dia para dia, à medida que as equipas de socorro e assistência à zona afectada vão conseguindo verificar toda a região ou vão conseguindo chegar a zonas ainda isoladas.
Com uma força de 8 na escala de Richter, o sismo teve o seu epicentro na localidade de Wenchuan, noroeste da província, uma zona turística onde se situam três lugares que integram a lista do Património Mundial da UNESCO e onde habitavam pouco mais de 11.800 pessoas, muitas das quais tibetanos.
As réplicas, algumas das quais provocando mais vítimas mas sempre com estragos materiais, seguiram-se ao sismo de maior intensidade e a destruição de edifícios ou a sua precaridade acabaram por deixar cerca de cinco milhões de pessoas sem casa.
À medida que as equipas conseguiam chegar às zonas afectadas deparavam-se com cenários muito piores do que o esperado, como aconteceu em Yingxiu, onde de uma população de 10.000 pessoas, tinham apenas sobrevivido 2.300 e um milhar estava ferida com gravidade.
A dimensão da tragédia mobilizou a ajuda internacional e interna e a imprensa publicava todos os dias imagens de Wen Jiabao, o líder do Governo, a acompanhar directamente os trabalhos de socorro, a falar e confortar vítimas, uma atitude que interna e externamente foi sempre salientada.
Relutantes no início, as autoridades chinesas acabariam também por aceitar ajuda de especialistas em socorro vindos do exterior e, apesar das inúmeras ofertas, abriram as fronteiras a equipas do Japão, Rússia, Coreia do Sul e Singapura.
Agora o tempo é de definir a reconstrução num prazo que se pensa poderá ir até três anos.

* Agência Lusa

CAIXA
A nona economia chinesa

A província de Sichuan, devastada pelo sismo de 12 de Maio na China, é a nona economia chinesa e a maior da região ocidental daquele país, referem dados estatísticos oficiais.
Com um Produto Interno Bruto em 2006 - últimos dados disponíveis - de 112,7 mil milhões de dólares americanos, a província registou uma taxa média de crescimento entre 2002 e 2006 de cerca de 10,7 por cento.
Conhecida como terra da abundância devido a condições favoráveis de tempo e a uma agricultura intensiva, Sichuan faz fronteira a leste com Hubei e Hunan, a sul com Guizhou e Yunnan, a oeste com o Tibete e a norte com Qinghai, Gansu e Shanxi.
Com um território de 485.000 quilómetros quadrados - é cerca de 5,2 vezes maior que a superfície portuguesa -, Sichuan acolhe uma população de 87 milhões de pessoas e foi ali que nasceu o arquitecto das reformas da China, Deng Xiaoping.
A capital, Chengdu, é um centro de comércio, negócios, pesquisa científica e de tecnologia, centro de transportes e comunicações e o site oficial da China indica que 125 das 500 maiores empresas mundiais já possuem escritórios na província.
A pronta ajuda internacional após o sismo não terá sido desencadeada apenas pela boa vontade do mundo, mas porque Chengdu é a terceira maior cidade do continente a acolher representações consulares como os Estados Unidos, a França, Alemanha, a Tailândia ou Singapura.
Se a indústria está concentrada nos produtos electrónicos, metalurgia, maquinaria, produtos químicos e alimentos, o turismo também tem uma posição forte na economia e entre as principais atracções está a estátua gigante do Buda, no monte Emei, um dos monumentos chineses que integram a lista de património da UNESCO.
Com um plano quinquenal focado na agricultura, indústria, turismo e cultura, os líderes da província terão agora que centrar esforços na reconstrução das zonas afectadas, um trabalho já iniciado e que conta com o apoio popular.
Os donativos internos e externos totalizam cerca de 10.000 milhões de euros enquanto outros 6,4 mil milhões de euros serão atribuídos pelo Governo Central à Fundação de Reconstrução Pós-Sismo.

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