5.6.08

Primavera de Pequim recordada em Macau e Hong Kong
Ng Kuok Cheong promete lembrar Tiananmen
“até ao fim da vida”


A Associação do Novo Macau Democrático (ANMD) recordou ontem o massacre de Tiananmen com mais uma vigília no Largo do Senado, junto à Igreja de S. Domingos, a que compareceram dezenas de pessoas. Foram projectadas imagens dos dias de protesto em 1989,o que acabou por atrair a curiosidade de muitos transeuntes.
Durante a vigília, o deputado Ng Kuok Cheong, líder da ANMD reconheceu que o mundo e a própria China mudaram muito desde 1989, mas garantiu que continuará sempre a assinalar o aniversário dos incidentes de Tiananmen, “até ao fim da sua vida”, por entender que o governo chinês deve mudar o seu veredicto sobre os acontecimentos – uma “rebelião contra-revolucionária, segundo Pequim – e por estarem ainda por contabilizar todas as vítimas do massacre.
Em Hong Kong, o Parque Victoria voltou ontem a ser cenário de mais uma vigília para recordar os estudantes que morreram há 19 anos em Tiananmen, vítimas da repressão de Pequim. Organizada pela Aliança de Hong Kong de Apoio aos Movimentos Democráticos na China com o apoio da Amnistia Internacional,a vigília contou com a participação de milhares de pessoas. 


Pequim continua a ignorar Tiananmen 19 anos depois

Dezanove anos depois, o massacre de Tiananmen continua condenado ao esquecimento da sociedade e do governo chineses, mas com a comunidade internacional a aumentar a pressão para que Pequim liberte os participantes nos protestos ainda detidos.
Como em outros anos, organizações de direitos humanos utilizaram o aniversário para pedir à China que deixe de ocultar aquela tragédia, à qual alguns chamam o “grande erro de Deng Xiaoping”, que na altura era o líder máximo chinês. Este ano, as petições tiveram maior eco, devido à especial atenção internacional que está a despertar o país asiático, onde se realizam os Jogos Olímpicos deste Verão e já criticado há meses pelo tratamento que deu à questão do Tibete.
O governo norte-americano também se uniu às petições na terça-feira através do porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, que afirmou num comunicado que Pequim “teve tempo de sobra para dar informação completa sobre os milhares de mortos, detidos e desaparecidos”.
Algumas das organizações asseguram que o regime chinês tem uma oportunidade histórica, este ano olímpico, para emendar uma das suas páginas mais negras. “A China podia substituir a imagem daquele homem que bloqueava os tanques (a 5 de Junho de 1989) por outra na qual se veria a libertação dos prisioneiros de Tiananmen. Seria um gesto verdadeiramente olímpico”, assegurou num comunicado Sophie Richardson, directora da Human Rights Watch (HRW) na Ásia.
A HRW calcula que cerca de 130 pessoas continuam presas por terem participado nos protestos de 1989, durante os quais estudantes, operários e intelectuais pediram uma maior abertura política. Entretanto, outros foram presos ou sancionados em anos posteriores por tentarem abordar o tema nos meios de comunicação. “É lamentável que o Partido Comunista se dedique há 19 anos a tentar fazer desaparecer da memória a Primavera de Pequim com censura e repressão”, sublinhou hoje num comunicado a Repórteres sem Fronteiras. 


A censura faz com que muitos dos jovens chineses, os da geração do “filho único”, que nasceram a partir dos anos 1980, quase ignorem o que se passou em 1989. As gerações anteriores têm recordações, ainda que pouco claras, dos incidentes daquele ano. “Recordo-me de ter passado por Tiananmen naqueles dias e vê-la toda coberta de tendas de campanha, parecia mais uma festa que um protesto”, assegura Huang Yong, professor de Mandarim. 


Os protestos, que começaram em Abril de 1989, começaram de facto num ambiente quase festivo, com estudantes acampados em Tiananmen, que cantavam e pediam pequenas mudanças ideológicas no seio do Partido Comunista, ao qual alguns pertenciam. 

No entanto, posteriormente, alguns manifestantes radicalizaram a postura, como a célebre Chai Ling, aquela estudante, que agora dirige a sua própria empresa nos Estados Unidos, que naquela altura gritava frases democratizantes com o megafone na mão.
Também havia divisão no governo chinês acerca de como lidar com os manifestantes, que com o passar dos dias começavam a fazer temer uma queda do regime comunista parecida com a que naqueles anos estava a ocorrer na Europa de Leste. 

 O então secretário-geral do Partido Comunista, Zhao Ziyang, chegou a reunir-se com os estudantes e a dar-lhes os seu apoio. Ziyang foi demitido e a “linha dura” do primeiro-ministro Li Peng, defensor do silenciamento a qualquer preço, venceu. 

Dezanove anos depois, a China mantém o silêncio em relação ao que ocorreu, com algumas excepções, como a associação Mães de Tiananmen, liderada por Ding Zilin, que este ano inaugurou uma página Web para tentar recuperar a memória, mas foi bloqueada pela censura chinesa pouco depois de ser criada. 


Ding pediu numa carta para que a bandeira nacional fosse posta a meia haste pelas vítimas de 1989, da mesma forma que há duas semanas foi pelos mortos do terramoto de Sichuan.

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