14.7.08

Crise na Air Macau enfrenta soluções complexas

José Costa Santos *

A crise de resultados da Air Macau, que, só em 2008, regista prejuízos acumulados de 200 milhões de patacas, enfrenta um complexo caminho para a sua resolução.
Com um capital social de 400 milhões de patacas, a Air Macau tem no exercício deste ano prejuízos acumulados de mais de 200 milhões de patacas, aos quais terão de ser acrescidos cerca de 220 milhões de patacas.
A lei de Macau obriga a uma tomada de posição dos accionistas e estes ou procedem à liquidação, à diminuição do capital social ou cobrem os prejuízos.
Fontes do sector garantiram à agência Lusa que na Assembleia Geral que aprovou as contas de 2007 – com prejuízos de 109 milhões de patacas – os pequenos accionistas que representam 49 por cento do capital social alertaram não estarem disponíveis para injectar dinheiro na empresa, pelo que a cobertura das perdas pode estar inviabilizada.
Por outro lado, podia pensar-se numa solução assumida apenas pelo accionista maioritário, a China National Aviation Corporation - integrada na 'holding' gerida pela Air China –, mas aqui surge outro problema já que a companhia chinesa está cotada em bolsa, o que dificulta uma injecção de capital.
Já a diminuição ou até um aumento do capital social a realizar elos accionistas tem de colher uma maioria de dois terços, o que só seria possível se alguns dos sócios minoritários acompanhassem a Air China na decisão, movimento que parece difícil perante a posição assumida na última Assembleia Geral.
Na análise de fontes da aviação de Macau é, no entanto, salientado o ”valor político” da Air Macau nas ligações entre Taiwan e o continente chinês, uma mais-valia que até ao final de 2008 deixará de existir se, mesmo em regime 'charter', passarem a diárias as actuais ligações entre sexta e segunda-feira entre os dois lados do Estreito da Formosa.
A menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos e ainda sem a garantia do sucesso dos voos directos, será, no entanto, difícil que a Air Macau vá para a falência, mas terá de haver então acordo dos accionistas na definição de uma estratégia de recuperação.
Apesar de não ser um tema referido, o facto da Air Macau ter os direitos exclusivos de voo no território e de, como é acusada, estar a ”limitar o desenvolvimento de outras companhias” como a Viva Macau ou até a própria Macau Express, que está parada e onde a Air Macau detém 51 por cento numa parceria com a Shun Tak de Stanley Ho, poderá ser usado como forma de pressão para liberalizar o mercado.
Nesta opção e com várias empresas a manifestar vontade de expansão, o mercado local ficaria com um maior número de destinos disponíveis, abrindo caminho a uma reestruturação da Air Macau e, talvez, à sua sobrevivência como companhia aérea.
“Perder a concessão poderia trazer algo de positivo mas a questão está centrada na gestão da própria companhia e o principal accionista parece não só não ter modelos adaptados a pequenas companhias com a Air Macau como não parece muito preocupado dado à reduzida dimensão da empresa no contexto das companhias que têm a seu cargo”, explicou uma fonte do sector.
Por outro lado, o ”modelo de concessão não é o mais favorável dado não existirem mecanismos de supervisão sobre a utilização de direitos de tráfego que pertencem à Air Macau quando deveriam ser controlados pelo Governo”, acrescentou.
Macau tem acordos aéreos com mais de 40 países mas a maioria deles ”apesar de serem mercados interessantes do ponto de vista comercial estão inexplorados”, além de que dos direitos para mais de 50 destinos no continente chinês, são apenas utilizados uma pequena minoria.
“Mas se alguém quiser voar para esses destinos tem de negociar com a Air Macau e não com o Governo”, explica a fonte ao salientar que os cinco por cento do Governo na empresa são ”insuficientes para poder intervir na gestão ou nas políticas de ligação aérea efectiva do território”.
Renegociar o contrato de concessão abrindo rotas não exploradas pela Air Macau a outros operadores pode também gerar tráfego para a actual companhia de bandeira que se quiser entrar nessas linhas tem de o fazer em concorrência.
As fontes defendem ainda uma política de apoios ao desenvolvimento sustentável das companhias aéreas baseadas em Macau desde que integrem uma política alinhada com os interesses do território e do sector da aviação
“Mais do que assegurar o valor político nas ligações entre Taiwan e o continente chinês, as companhias como a Air Macau são importantes porque o seu negócio está ligado ao território, geram emprego e trazem divisas e turistas”, salientaram.
No entanto, sublinham, não deverão ser verificadas grandes alterações até ao final do ano na medida em que haverá outras prioridades políticas e comerciais a definir para poder pensar-se no futuro da Air Macau.
Até lá, a injecção de capital na companhia será inevitável, mas resta saber como será feita.

Agência Lusa

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