9.7.08

Historiador fala em importância histórica, mas diz que a arquitectura foi destruída
Malaca declarada património da Humanidade

A UNESCO acrescentou ontem Malaca, uma antiga fortaleza portuguesa no sudeste asiático, à sua famosa lista de tesouros da Humanidade.
Malaca, ou Melaka, como se diz hoje em malaio, foi conquistada por Afonso de Albuquerque em 1511 e posteriormente ocupada pelos holandeses. A sua nomeação foi aprovada pelo Comité do Património Mundial da Unesco juntamente com Gweorge Town, outra povoação histórica da actual Malásia.
O comité, cuja reunião anual decorre até 10 de Julho no Quebec, acrescentou ainda dois outros locais à sua lista: o templo hindu de Preah Vihear, no Cambodja, e a antiga área agrícola de Kuk, na Papua Nova Guiné, devido ao seu "excepcional valor histórico".
É o primeiro local da Papua Nova Guiné a fazer parte do Património Mundial, cuja lista passou agora a ter 858 nomes.

Património arquitectónico destruído

A cidade de Malaca teve um papel histórico muito relevante no século XVI, mas não tem património arquitectónico porque foi tudo destruído, disse ontem o historiador do Oriente Luís Filipe Thomaz.
"Malaca foi uma cidade muito importante. Teve um papel comercial e cultural muito importante. Tinha entre 190 mil a 200 mil habitantes na altura, o que é muito para a época", disse o professor à Agência Lusa.
Luís Filipe Thomaz falava à Lusa depois de a UNESCO ter consagrado segunda-feira aquela cidade da Malásia Património Mundial da Humanidade.
O professor confessou à Agência Lusa que a nomeação o "surpreendeu um pouco", precisamente por não haver património arquitectónico que foi destruído pelos holandeses e ingleses, que ocuparam Malaca depois dos portugueses.
"A nomeação surpreendeu-me um pouco. Não é uma cidade com património arquitectónico muito rico e muito antigo. Mas não são só as coisas do século XVI que são importantes, as cidades do século XIX preservadas [principal período da edificação da actual cidade] também têm interesse histórico", disse o historiador.
Em declarações à Lusa, Luís Filipe Thomaz disse ainda que "da época portuguesa também há pouca coisa" e criticou a "má classificação" de alguns vestígios, exemplificando com a "Porta de Santiago", a única que alegadamente resta da antiga fortaleza portuguesa.
No entanto, segundo o historiador, ao contrário do que está assinalado numa lápide no local, essa porta não pertence à fortaleza construída por Afonso de Albuquerque, que conquistou Malaca em 1511, mas a uma muralha construída posteriormente envolvendo toda a cidade.
"O que se diz que é a fortaleza portuguesa não o é", apesar de estar lá escrito, "numa lápide de parede", afirmou Luís Filipe Thomaz que já visitou Malaca várias vezes.
De acordo com o historiador, Afonso de Albuquerque construiu uma pequena fortaleza onde fica hoje a municipalidade.
"Devia ser um pouco semelhante à Torre de Belém. Um edifício com um pátio no meio e uma torre muito alta, mas foi demolido pelos holandeses. Em 1530 ou 1540 começou a ser construída uma muralha, que cercou a cidade e envolveu o bairro central e a fortaleza", contou.
Toda a muralha foi destruída pelos ingleses, excepto uma das portas.
Da época portuguesa restam também ruínas de duas igrejas, numa das quais esteve o "primeiro túmulo de S. Francisco Xavier, que depois foi para Goa".
Hoje, existe um bairro português em Malaca, onde residem cerca de três mil pessoas que falam um crioulo português, que tem uma igreja e grupos de rancho folclórico.
"A cultura e a língua portuguesas mantiveram-se porque eram favorecidas pelos padres. Mas, pela primeira vez desde 1511, não há lá um pároco português porque ninguém se interessa por aquilo", lamentou o historiador.
"O último padre foi Manuel Joaquim Pintado, esteve lá 50 anos e saiu em 1999", indicou.
Malaca, ou Melaka, como se diz hoje em malaio, foi conquistada por Afonso de Albuquerque em 1511 e posteriormente ocupada pelos holandeses.
Os portugueses permaneceram na cidade até 1641.


*****


Padre Lancelote Rodrigues honrado
com distinção de Malaca pela UNESCO


A entrada de Malaca para a lista de tesouros da Humanidade da UNESCO é uma “honra para todos os malaqueiros”, disse ontem à agência Lusa em Macau o padre Lancelote Rodrigues, natural de Malaca.
Aos 84 anos e a residir desde 1935 em Macau, onde chegou com 12 anos para ingressar no Colégio de São José, Lancelote Rodrigues visita regularmente a sua terra natal que diz “estar muito bem conservada” e recorda uma caravela portuguesa que está no porto da cidade e que hoje é um museu.
“Apesar de estar em Macau sinto-me muito honrado com esta distinção da UNESCO que é também uma honra para todos os malaqueiros”, salientou.
Malaca, ou Melaka, como se diz hoje em malaio, foi conquistada por Afonso de Albuquerque em 1511 e posteriormente ocupada pelos holandeses e sua entrada na lista da UNESCO foi aprovada pelo Comité do Património Mundial da UNESCO juntamente com George Town, outra povoação histórica da actual Malásia.
Apesar das raízes portuguesas e da manutenção do património da cidade, Lancelote Rodrigues manifesta algum desgosto pelo facto da língua portuguesa ser hoje uma língua apenas dominada pelos mais velhos e desconhece o ensino da língua de Camões na antiga fortaleza portuguesa.
“Não creio que se ensine o português até porque os malaqueiros são preguiçosos pelo que é difícil que a língua consiga vingar”, afirmou.
Mas apesar da língua estar afastada da população ”ainda hoje continuam a ser celebradas festas cristãs ligadas às tradições portuguesas como o São João ou o São Pedro”, concluiu.


*****


Há ruas com nomes portugueses
e existem ranchos folclóricos


A cidade de Malaca tem um bairro onde as ruas têm nomes portugueses, fala-se um crioulo da língua portuguesa, existem quatro ranchos folclóricos e os seus moradores têm orgulho da sua ascendência.
A ideia de criar um bairro português em Malaca foi de um missionário francês e surgiu em resposta a um apelo dos portugueses residentes num território que Portugal ocupou entre 1511 e 1641.
Inaugurado em 1930, aquele bairro conta actualmente com cerca de três mil habitantes, que falam um crioulo português.
"Falamos um português antigo, mas com uma pronúncia mais asiática", disse hoje à Agência Lusa o regedor do bairro português de Malaca, Peter Gomes.
Sublinhando que "todos os moradores têm orgulho de serem descendentes de portugueses", Peter Gomes garantiu que falam português entre eles e rezam em português também.
O crioulo do português é ensinado às crianças pelos pais, que lhes ensinam também o que é Portugal e a sua importância histórica.
"Não ensinam a língua nas escolas, por isso, nós ensinamos aos nossos filhos. A pronúncia é diferente e a gramática é antiga porque não temos escolas de português", explicou o regedor.
No entanto, quando questionado se gostavam de ter um professor de português no bairro, Peter Gomes foi peremptório quando respondeu "não".
"Não queremos aprender o português novo. Não queremos mudar as nossas tradições", explicou.
Da cultura portuguesa fazem ainda parte os quatro ranchos folclóricos que foram criados no bairro português e algumas canções portuguesas, levadas por padres portugueses.
Actualmente não há nenhum padre português em Malaca, de acordo com o regedor, e a falta de um sacerdote é muito sentida pelos habitantes do bairro português, que são católicos.
Existe ainda uma Praça Portuguesa e o Hotel Lisboa, num bairro que deu às suas ruas nomes de "portugueses honrados", como Diogo Lopes de Sequeira, um dos primeiros portugueses a chegar a Malaca, e Rui de Araújo, o primeiro feitor de Malaca.
Entre os moradores do bairro é comum encontrarem-se apelidos como Gomes, Teixeira e Silva.
A destoar está a arquitectura do bairro que "não tem parecenças com a portuguesa", com excepção da praça e do hotel.
Mostrando-se "muito satisfeito" por Malaca ter sido declarada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, Peter Gomes disse serem poucos os portugueses que visitam aquela cidade.
Apesar de morarem numa cidade longínqua de Portugal, o regedor garantiu que não se sentem esquecidos pelo Governo português.
"O Embaixador português em Banguecoque, que é a nossa embaixada mais próxima, visita-nos de tempos a tempos para saber como estamos", afirmou.
Malaca foi conquistada em 1511 por Afonso de Albuquerque e permaneceu sob domínio dos portugueses até 1641.

Edições Anteriores

Arquivo

DIRECTOR Paulo Reis REDACÇÃO Isabel Castro, Rui Cid, João Paulo Meneses (Portugal); COLABORADORES Cristina Lobo; Paulo A. Azevedo; Luciana Leitão; Vítor Rebelo DESIGN Inês de Campos Alves PAGINAÇÃO José Figueiredo; Maria Soares FOTOGRAFIA Carmo Correia; Frank Regourd AGÊNCIA Lusa PUBLICIDADE Karen Leong PROPRIEDADE, ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Praia Grande Edições, Lda IMPRESSÃO Tipografia Welfare, Ltd MORADA Alameda Dr Carlos d'Assumpção 263, edf China Civil Plaza, 7º andar I, Macau TELEFONE 28339566/28338583 FAX 28339563 E-MAIL pontofinalmacau@gmail.com