21.8.08

Doença que está a afectar pinheiros em Portugal pode ter tido origem em Macau
Praga transcontinental

A doença nemátodo do pinheiro, que neste momento ameaça dizimar este tipo de árvore no continente europeu – de Portugal à Escandinávia – pode ter sido exportada de Macau. Embora não haja certezas, o vírus foi descoberto há uma década na península de Setúbal. E foi precisamente em 1999 que milhares de contentores - muitos deles de madeira de pinheiro - foram de Macau – região onde existe a doença - para Portugal, quando do regresso à pátria de centenas de famílias, no último ano de administração portuguesa

Alfredo Vaz

O continente europeu está a braços com uma praga da doença do nemátodo do pinheiro que preocupa seriamente agricultores e autoridades florestais: do extremo oriental do continente – Portugal – até à Escandinávia, afectando também as florestas de Itália e da Grécia. O alerta está lançado e há que agir depressa e com soluções radicais: “cortar, cortar, queimar, esperar e voltar a plantar”, disse ao PONTO FINAL o engenheiro agrário António Saraiva, co-autor de um estudo sobre esta praga em Macau, publicado em 1993.
A doença é originária da América do Norte. Mas lá, os inimigos naturais (macroscópicos e microscópicos) controlam-na.
Da América do Norte a estirpe passou para a Ásia: Taiwan, Japão, China, e....Macau, onde em meados dos anos setenta o pinhal de Coloane foi severamente atacado.
A história vem resumida no parágrafo que a seguir se lê, extraído do livro Jardins e Parques de Macau António Saraiva a António Estácio.
"Em meados da década de 70 os povoamentos de pinheiro foram atacados, de acordo com técnicos de Hong-Kong e de Portugal, por uma praga que, fixando-se na base das folhas, interceptava passagem da seiva, o que causou um processo de enfraquecimento que predispôs ao aparecimento de outras pragas. O controle fitossanitário mostrou-se inviável e perante o rápido desenvolvimento do sub bosque foi decidido, de acordo com os técnicos portugueses - arquitecto paisagista Carvalho de Vasconcelos e engenheiro silvicultor Serrão Nogueira, que, em Junho de 1980 se deslocaram ao Território - abandonar a reflorestação à base de pinheiro e acelerar-se a evolução natural, mediante a plantação, sempre que possível, de espécies folhosas.
Em 1982 iniciou-se, na Ilha de Coloane, a reflorestação por administração directa, a qual, nos anos de 1984-85 e 1987-88 foi substancialmente reforçada graças à colaboração prestada pelos Serviços Florestais da Província de Guandong (RPC) o que constituiu uma das primeiras e mais bem sucedidas formas de cooperação desta província com o Território."*

Macau no centro das investigações

Em Dezembro de 2001 o especialista português Manuel Mota esteve na RAEM para estudar se a doença teria ido para Portugal via Macau. António Saraiva, que nos anos 80 e 90 foi responsável pelo departamento de zonas verdes Leal Senado, foi o cicerone, a auxiliou nas investigações. “Eu estive com ele, e fui-lhe mostrar vários pinheiros afectados”, recordou António Saraiva ao PONTO FINAL. “Falámos também com o dr. Pun, Chefe dos Serviços de Zonas Verdes das Ilhas, e especialista em insectos.
Isto porque a doença apareceu (ou foi detectada) em Portugal em 1999, na península de Setúbal. E foi em 1999 que milhares de contentores - muitos deles de madeira de pinheiro - foram de Macau – região onde existe a doença - para Portugal”, contextualizou o engenheiro agrónomo.
Segundo o portal do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (MADRP) do Governo Português, "a dispersão do NMP pode ser efectuada pelo transporte internacional de madeira e paletes não tratadas que ocorre por todo o mundo.”
E a verdade é que estudos genéticos mostram semelhanças entre as estirpes orientais e as de Portugal. "As afinidades genéticas entre as populações portuguesas e orientais fazem supor que a introdução na Europa tenha ocorrido através de madeira infectada proveniente do extremo oriente", refere o portal do MADRP.
No entanto, para António Saraiva, “não se pode dizer com toda a certeza que veio de Macau, não foi só de cá que foram encomendas do Sudeste Asiático para Portugal em 1999. Tanto pode ser, como não ser!”

Impacto social

Em Portugal - e toda a Europa, há muitos madeireiros que vivem momentos de grande angústia e sobressalto. Ora se a madeira portuguesa estiver infectada ninguém a vai querer comprar, comprometendo-se seriamente o ganha-pão de centenas de agregados familiares.
A União Europeia determinou que toda a madeira de Portugal tem de sofrer um tratamento - ser aquecida a 77 graus - para destruir o verme. Mas outras medidas foram tentadas: Em Portugal, em 2007 - entre Janeiro a Março, pretendeu-se conter o insecto através do abate de todos os pinheiros bravos numa faixa com 400 quilómetros de comprimento por 3 de largura. Mas o plano falhou, ( num país em que há pouca autoridade, insuficientes fiscais, e em que a função pública esta em constante remodelação/extinção). Além disso deve ter sido transportada ilegalmente madeira da Península de Setúbal para outras áreas do País (este fenómeno ocorre muitas vezes quando os governos intentam controlar doenças – os proprietários, não querendo ser penalizados, pretendem fazer passar os seus produtos ‘amaldiçoados’ por produtos de outras regiões.
Actualmente todo o Território Continental Português é considerado área afectada, e esperam-se apoios do governo às empresas afectadas.

*in Jardins e Parques de Macau. IPOR - 1993 - de A. Saraiva a A. Estácio.


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Perguntas e respostas sobre o nemátodo do pinheiro

O que é o Nemátodo da Madeira do Pinheiro?
O Nemátodo da Madeira do Pinheiro NMP), cujo nome científico é Bursaphelenchus xylophilus, é um verme microscópico que mede menos de 1,5mm de comprimento, sendo considerado um dos organismos patogénicos mais perigosos para as coníferas a nível mundial, pois é o agente causal da doença da murchidão dos pinheiros, originando a morte das árvores afectadas.

Qual a distribuição geográfica do NMP?
O NMP é nativo da América do Norte, ocorrendo nos Estados Unidos e Canadá. A actividade humana provocou a sua introdução acidental em vários países do Extremo Oriente, primeiro no Japão e, mais tarde, na China (incluindo Macau) Taiwan e Coreia do Sul. Recentemente o NMP foi detectado em Portugal no ano de 1999. As afinidades genéticas entre as populações portuguesas e orientais fazem supor que a introdução na Europa tenha ocorrido através de madeira infectada proveniente do extremo oriente.

Que árvores são atacadas pelo NMP?
O NMP ataca as coníferas, principalmente do género Pinus (pinheiros). As espécies que ocorrem na América do Norte aparentam ser resistentes, sendo o P. banksiana, P. echinata e o P. elliottii as mais susceptíveis. Na Ásia, o NMP provoca mortalidades significativas, afectando principalmente o P. densiflora e o P. thunbergii. No Japão, por exemplo, o NMP é responsável pela perda de mais de um milhão de metros cúbicos de material lenhoso por ano. Para além dos pinheiros, espécies de abetos, cedros e larícios são também susceptíveis à acção do NMP. Em Portugal, o NMP foi encontrado unicamente em pinheiro bravo (P. pinaster), embora ocorra em áreas com grande densidade de outros pinheiros, nomeadamente o pinheiro manso (P.pinea).

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