18.8.08

Plano Conceptual duramente criticado
Um mundo ao contrário

O Plano Conceptual para o Desenvolvimento de Macau, “uma cidade vigorosa no mundo”, de vigor tem muito pouco. Esta é a opinião do conceituado arquitecto local Carlos Couto que considera o plano “inóquo” e “desligado da realidade”. Couto receia que o plano venha a dar em nada

Rui Cid

Carlos Couto sem papas na língua. O arquitecto acha que se perdeu uma excelente oportunidade para traçar um fio de prumo para o futuro de Macau, e lamenta que alguns dos principais agentes da economia não tenham sido convidados a dar a sua contribuição. Para o arquitecto, o plano apresentado na segunda-feira tem poucas hipóteses de sucesso.
“O plano não é plano, é vazio, não tem nada. Penso que há uma grande ausência de conteúdos, está muito pouco sustentado em questões técnicas, há muito ainda para fazer, mas também não nada preocupado porque é completamente inóquo. Seja aprovado ou não, não vai ter qualquer efeito. São apenas intenções, mas parece-me que está a ser feito de uma forma desligada da realidade. Acho que há serviços no território que hoje em dia têm uma dominância muito grande na economia, o caso – por exemplo – dos Serviços do Turismo, e o que eu pergunto é até que ponto é que até que ponto é que este reflecte as politicas da Direcção dos Serviços de Turismo que tem politicas próprias para o desenvolvimento do turismo em Macau, e o que eu pergunto é até que ponto é que o Plano Conceptual teve em consideração opiniões, visões e estratégias que o próprio turismo tem? Se calhar não teve nenhumas.” Carlos Couto fala também em falta de coordenação, “
Há um divórcio total, há serviços a trabalhar, cada um a fazer a sua coisa. Pode-se tentar fazer um plano bonito, um plano de intenções, de ideias, mas que não tem sustentação técnica nenhuma, neste momento, pelo menos.”
Carlos Couto considera que o Plano Conceptual é muito superficial, e que não leva em linha de conta a realidade futura da RAEM, nomeadamente o impacto do sector do turismo na economia local:
“hoje em dia Macau tem, em termos de turismo, mais turistas do que os Estados Unidos. Temos um fluxo de turismo enormíssimo, e há que ter respostas para isso, há que pensar – por exemplo – quanto hotéis é que vão aparecer nos próximos cinco anos, o que é que isto vai gerar em termos de aumento populacional, o que também não está nada equacionado naquele plano. E quando se pensa que – por exemplo – possamos ter mais 15 mil camas, o que é que isto vai dar em termos de empregados, quando se sabe que aqui nesta parte do mundo há um ratio de quase um para três, em termos de um funcionário para cada quarto de hotel. O volume de funcionários que isto vai gerar, e que não existem em Macau, e que não existem em Macau, vai gerar necessidades como uma bola de neve, em termos de educação, de serviços de saúde...nada disto está avaliado neste plano, está muito pela rama.”
O arquitecto relembra ainda que no Plano há apenas uma referencia breve ao aeroporto, a estrutura mais importante de Macau, mas que esta é breve. Diz que esperava muito mais do plano, que na sua opinião não reflecte os planos do Governo, que não sintetiza as politicas do Executivo.
“Acho que está a ser feito sem discussão pelas entidades que têm que o discutir, que têm que se envolver. Hoje em dia sectores importantíssimos como o sector do jogo não estão envolvidos na discussão, na elaboração do plano. Não é na discussão, as pessoas não têm que ser só ouvidas para dar só uma opinião, têm que ser ouvidas na própria concepção, desde o início. Não havendo essa envolvência, é evidente que o plano não reflecte as linhas de orientação que cada um dos sectores de actividade mais importantes deste território têm que fazer o seu input no próprio plano.”
Carlos Couto diz que há sinais de ‘mais do mesmo’, que a economia de Macau continua a ser movida por interesses privados:
“percebe-se que há um desenvolvimento no COTAI – que é óbvio - para os grandes projectos, mas tirando isso não há grandes ideias, as coisas sempre são decididas um bocado à vontade do promotor. A economia de Macau sempre gerou e sempre funcionou um bocadinho em resposta às propostas dos promotores privados. A Administração nunca se pôs numa óptica condutora, mas sempre numa óptica de ser conduzida e de analisar o que a economia privada vai propondo, e tomando decisões em função disso, mas não tem um plano estruturado para orientar a vida económica de Macau. É um bocadinho a reboque do sector privado que tem funcionado, e sempre funcionou. No passado e no presente, no futuro não sei."

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