18.8.08

Timothy Fok contra politização dos Jogos
“Deixem o mundo celebrar
o melhor das capacidades humanas"


O Presidente do Comité Olímpico de Hong Kong, Timothy Fok opõe-se a quem quiser explorar os Jogos Olímpicos para fins políticos.

Ricardo Pinto

Em que medida é importante para Hong Kong ser também cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos? Vai haver mudanças significativas no desporto local?
Timothy Fok - A designação de Hong Kong como palco dos eventos equestres foi uma honra conferida pelo Comité Olímpico Internacional, sob os auspícios do Comité Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Ao receber estes eventos, Hong Kong torna-se uma Cidade Olímpica, o que deverá ter um efeito catalizador no desenvolvimento de uma cultura olímpica na nossa comunidade.

O que é que espera, em termos de performance, dos atletas de Hong Kong?
Não tenho o hábito de vaticinar resultados de atletas, nestas ou quaisquer outras competições, porque dá azar e é uma pressão adicional dispensável para um atleta que já atingiu um nível de treino e desempenho de um campeão - e, para mim, um atleta de nível olímpico é já um campeão e tudo o mais que alcançar, será um bónus. Os Jogos têm que ver com os feitos da vitória, mas têm igualmente que ver com o ser humano que compete, seja ele medalhista ou não, e com o esforço sobre humano que nos inspira.

Pensa que a China tem hipóteses de conquistar os lugares de topo no mapa de medalhas? Quais os maiores nomes a saírem destes Jogos?
Mais uma vez, se os atletas chineses irão ou não alcançar os lugares cimeiros na contabilidade das medalhas vai depender de muitas variáveis. Um dos encantos do desporto Olímpico é que é muito difícil de prever, qualquer que seja o atleta ou o desporto. Sem dúvida nenhuma que a nação organizadora está determinada a que os seus atletas tenham um desempenho ao mais alto nível, mas também que o façam de forma a deixarem os seus compatriotas orgulhosos e os visitantes satisfeitos. Vamos certamente ver o povo chinês corresponder e mesmo ultrapassar as expectativas do movimento Olímpico. Quanto a nomes de topo como Mark Spitz ou Jesse Owen, ninguém pode, nem os próprios atletas, prever quais os resultados que vão obter. Sob tamanha pressão, o melhor do melhor pode acontecer, ou não acontecer. Esta é uma das maiores emoções dos Jogos Olímpicos: a absoluta imprevisibilidade, o drama por detrás do herói, expectável ou inesperado. Nos Jogos há sempre a surpresa daqueles que vêm da obscuridade e alcançam grandes vitórias, aqueles que vêm de países e territórios desconhecidos, em termos desportivos, conquistando, se não medalhas, os nossos corações.

Considerando todo o desenvolvimento e entusiasmo à volta do evento, diria que Pequim e a China já ganharam, mesmo antes dos Jogos terem começado?
De certa forma sim, qualquer país ou região que tenha o privilégio de ter uma das suas cidades como anfitriã dos Jogos Olímpicos, já é vencedor. Mas a vitória a que se refere é mais no sentido de aproveitar a oportunidade para mostrar a sua cultura e hospitalidade.

Com todos os protestos e controvérsia, pensa que a estafeta da tocha Olímpica acabou por ser prejudicial ou benéfica para os Jogos?
Eu desconfio sempre das discussões políticas que trespassam para o tema do Movimento Olímpico. Um dos princípios orientadores Olímpicos é manter os problemas do mundo quotidiano à margem dos Jogos e celebrar o melhor da capacidade humana. Posso estar a ser ingénuo ao partilhar esta convicção e tenho muita pena que nem toda a gente esteja de acordo comigo e que se utilizem estes Jogos para fins políticos. Mas isto que penso vai ao encontro da filosofia dos Jogos Olímpicos tal como foi concebida pelos Gregos, há três mil anos e confirmada pelos fundadores dos Jogos Modernos.
A tocha Olímpica não pertence a Pequim, assim como não vai pertencer a Londres nestes próximos anos. A tocha Olímpica é um símbolo universal de paz e boa vontade e deve ser respeitada como tal.

Foi anunciado que há a possibilidade de um ataque terrorista em Hong Kong, durante os Jogos. Acredita nessa possibilidade?
Relativamente a essa referência a um ataque terrorista estar a ser preparado contra Hong Kong durante os Jogos, deixe-me que lhe diga que a segurança é uma preocupação constante e não é exclusiva das Olimpíadas. Confiamos no treino e competência do nosso pessoal da segurança e estamos sempre vigilantes. O que tem de ser feito, no entanto, é não deixar que a segurança seja tão sufocante que condicione o desfrutar dos Jogos. Fala-se muito na questão da segurança. Infelizmente penso que sou um dirigente à moda antiga, mesmo admitindo que as coisas estão a mudar. Lembro-me de ter visto o filme "Chariots of Fire" ("Momentos de Glória", no título em português); nesses tempos a grande controvérsia era saber se os atletas podiam ou não correr ao domingo. Hoje em dia há uma exigência maior de sucesso, e infelizmente a questão da segurança tornou-se parte dos Jogos.

Penso que também terá visto "Munique", um filme sobre o ataque terrorista à delegação israelita nos Jogos Olímpicos de 1972. Será que estas preocupações sobre segurança podem estragar a festa?
Temos de perspectivar a situação: vão estar 68 chefes de estado em Pequim durante a cerimónia de abertura. Onde mais se poderá encontrar isto? Claro que esta situação requer medidas especiais de segurança. Mas ao mesmo tempo, não nos esqueçamos que estas pessoas vão estar lá, não por qualquer agenda política, mas por serem convidados do Comité Olímpico. Se tudo correr bem, todos estarão apenas com predisposição para celebrar este grande festival desportivo.

Pensa que o governo deve impedir a entrada de pessoas em Hong Kong, mesmo que só queiram participar em manifestações pacíficas? Alguns líderes políticos ameaçaram mesmo boicotar a cerimónia de abertura, em protesto pelos recentes acontecimentos no Tibete. Qual é a sua opinião sobre essa postura?
A decisão de banir alguém de entrar em Hong Kong é prerrogativa estrita das autoridades. Cada país ou território tem o seu próprio conjunto de critérios, que se aplicam num determinado dia e numa determinada contingência. Hong Kong não é excepção, nem os Jogos Olímpicos deverão ser.

Como é que Hong Kong pretende tirar partido destes Jogos, considerando que brevemente irá organizar os Jogos da Ásia Oriental?
Hong Kong pretende aproveitar as competições equestres para dinamizar a organização dos Jogos da Ásia Oriental do próximo ano. A forma como correr este evento dar-nos-á a medida daquilo que ainda precisamos de melhorar, de forma a termos um desempenho excelente em 2009, nos Jogos da Ásia Oriental.

Organizações conjuntas de dois países começam a ser bastante comuns em eventos desportivos, nomeadamente no futebol. O que pensa de Hong Kong e Macau acordarem em organizar conjuntamente os Jogos Asiáticos?
A ideia de Hong Kong e Macau organizarem em conjunto os Jogos Asiáticos não é nova, desde que o Japão e a Coreia organizaram o Mundial de Futebol, mas pela minha parte devo evitar assumir compromissos sem discutir primeiro a exequibilidade deste projecto com todas as partes envolvidas, nomeadamente as autoridades da sua cidade, as da minha, e o Conselho Olímpico da Ásia.

Os atletas de Macau não vão competir nos Jogos de Pequim, assim como Macau não será ainda admitido no Comité Olímpico Internacional. Considera esta situação injusta? O que deve Macau fazer de forma a ser aceite, depois de uma apresentação bem sucedida dos Jogos da Ásia Ocidental e dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto?
Podem contar comigo como defensor de Macau no seio do Comité Olímpico Internacional. Fui eu que, como se deve recordar, acompanhei o presidente Jacques Rogge a Macau para a cerimónia de abertura dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto 2007, e nunca deixei de defender a causa de uma cidade com que me identifico bastante. O que Macau conseguiu construindo essas maravilhosas instalações desportivas, e ao receber com tanto sucesso, sucessivamente os Jogos da Ásia Oriental, os Jogos da Lusofonia e os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto, merece consideração por parte do Movimento Olímpico. Mas temos de ter paciência nesta cruzada para Macau ser membro de per se do Comité Olímpico, pois às vezes não é tanto uma questão de capacidade e empenho mas mais uma questão de procedimentos e política. Se dermos tempo, certamente que a nossa causa comum vai ter uma resposta favorável e o nosso sonho comum será realizado.

Depois dos Jogos Olímpicos, a China poderá tornar-se um candidato à organização do Mundial de Futebol e nesse caso Macau e Hong Kong seriam escolhas naturais para a disputa de alguns jogos de grupo?
Cabe à FIFA decidir sobre uma candidatura da China, no caso dela existir, ao Mundial de Futebol, um jogo global, um jogo que unifica toda a humanidade. Eu partilho consigo essa esperança, sim. A China deve organizar o Campeonato Mundial de Futebol, o desporto mais amado e largamente praticado no país, e sim Hong Kong e Macau devem ser palco dos jogos. Mas isso pertence ao futuro, para já concentremo-nos nas Olimpíadas. Esse é um sonho que eu tenho: Macau, que já possui as instalações desportivas necessárias e Hong Kong, que está a caminho de as construir, oferecermos em conjunto as nossas cidades como locais de realização das grandes competições desportivas internacionais. Não há prova mais convincente da nossa devoção ao futebol do que oferecer um palco para o melhor dos jogos ser apreciado em todo o mundo.

Como presidente da Associação de Futebol de Hong Kong, o que devia ser feito para melhorar drasticamente a qualidade do jogo, na região?
O futebol é o jogo mais popular do mundo. É esta a definição de jogo global. A minha convicção e a minha campanha tem sido convencer o meu governo aqui, a concentrar mais recursos e a construir mais infra-estruturas para as pessoas, os jovens em particular, jogarem este jogo, para que os melhores sejam descobertos e incentivados a competir a alto nível. Desta forma, com uma cultura futebolística mais generalizada, poderemos crescer como comunidade futebolística. Existe uma paixão universal pelo futebol, e isso é, em si mesmo, um motor para que os governos façam a distribuição dos recursos necessários ao desenvolvimento do jogo dentro de portas, de forma a que as pessoas não só assistam aos jogos, mas joguem ao mais alto nível.

O que é que o impressionou mais no campeonato europeu de futebol, recentemente realizado?
O Euro é um espectáculo sensacional de futebol, não só na Europa mas em todo mundo e o interesse em Hong Kong e Macau foi intenso. Ao ver como a Áustria e a Suíça se comportaram enquanto organizadores conjuntos desejei que este feito pudesse ser repetido na Ásia, na nossa competição de futebol Continental. As receitas e o interesse gerado não aconteceram só na Europa, mas em todo o mundo. Nós em Hong Kong e Macau ficámos completamente presos aos jogos, fossem quais fossem as nossas preferências.

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