11.9.08

473 alunos no regresso às aulas da Escola Portuguesa de Macau
Aposta nas línguas a pensar no futuro

Ontem foi dia de regresso às aulas na EPM. O ano lectivo arranca com menos 33 alunos do que no ano passado e com algumas novidades. A introdução do inglês no 12º ano e a extensão do ensino do mandarim ao 10º ano são uma aposta a pensar no futuro da Escola

Rui Cid

Com o sol de verão prestes a despedir-se, as correrias loucas e brincadeiras voltaram ontem à Escola Portuguesa de Macau no dia em que a instituição entra no 11º ano lectivo da sua história. O regresso às aulas na EPM fez-se com 473 alunos - 317 no ensino básico e 156 no secundário - um número que pode ainda sofrer alterações, devido "aos habituais pedidos de transferências que a escola recebe por esta altura todos os anos de alunos cujos pais só agora resolvem as suas vidas", como revelou aos jornalista a directora da escola.
"A minha previsão ronda os 470/480 alunos para este ano lectivo. Penso que é um número razoável, que significa uma perda de sensivelmente 30 alunos em relação ao ano passado, correspondendo essa diferença ao número de alunos que saíram, cerca de 50 e aos que entraram. Pela primeira vez em 10 anos, temos, este ano, apenas uma turma no 1º ano, e porquê? O (jardim de infância) Dom José da Costa Nunes que é a nossa "fonte" tem pouco alunos e, este ano, entraram apenas 20 alunos para o 1º ano", explica Edith Silva.
Se a perda de alunos não constitui surpresa, tem sido assim ao longo dos últimos anos, o ano lectivo traz algumas novidades à EPM. Desde logo pela introdução do inglês como língua estrangeira no secundário para as áreas que não tinham qualquer idioma estrangeiro e a extensão do ensino do mandarim até ao 10º.
"A lei de Quadro do sistema educativo exige que no ensino secundário haja sempre uma língua estrangeira no currículo. Tendo o mandarim no 10ºano o assunto ficou resolvido, mas no 12º existem agrupamentos que não têm língua estrangeira. Como nós, apesar de não estarmos dentro da rede de escolaridade gratuita de Macau, estamos dentro da Lei Quadro do sistema educativo da RAEM temos que cumprir o que está determinado. Dessa forma decidimos introduzir a língua inglesa no ensino secundário para todos os alunos que não tinham ainda uma língua estrangeira", justificou.
Recordando que o ensino do mandarim na instituição remonta a 2005/2006, a responsável máxima pela direcção da escola congratulou-se pelo esforço feito para, pela primeira vez e depois de "problemas em anos anteriores", a EPM começar o ano lectivo com três professores de mandarim a tempo inteiro aos quais se junta uma outra, a tempo parcial: "não é fácil encontrarmos professores de mandarim para alunos portugueses e acredito que com este elenco de professores de mandarim vamos ter um ano mais calmo no ensino desta língua".
Na longa conversa que manteve com jornalistas, Edith Silva considerou que reforço na área das línguas espelha o que a escola preconiza para o futuro, frisando que a liberdade de escolha dos alunos é também uma vantagem para a escola.
"Desde o ano lectivo de 2005/2006 que damos a escolher aos encarregados de educação duas opções - via A e via B. Na primeira opção, o inglês e o mandarim são obrigatórios a partir do primeiro ano de escolaridade, na segunda apenas o inglês é obrigatório. Este programa estende-se, já este ano lectivo, até ao 10º ano quando nos anos anteriores era apenas obrigatório, para quem optasse pela via A, até ao 9º ano. A ideia é, gradualmente, estender o programa até ao 12º ano. O projecto educativo da escola contempla uma aposta forte na parte das línguas. O nosso objectivo é que um aluno que saia da EPM, com o 12º ano, seja fluente em três línguas - a materna e duas estrangeiras. Paralelamente também temos o francês como opção, visto que os alunos que são transferidos de Portugal para Macau ou de cá para lá, não têm mandarim. Daí que a nossa oferta seja a opção pelas duas vias, ficando essa escolha nas mãos dos encarregados de educação. Estamos a tentar, junto do Ministério da Educação, um aval para o reconhecimento do mandarim. No quadro actual, um aluno que cá frequente as aulas de mandarim e, por algum motivo, seja transferido para Portugal fica-lhe a faltar uma língua estrangeira no currículo e esse é um problema que queremos resolver", sublinha.
Em sentido inverso, todos os anos chegam alunos novos à Escola Portuguesa e Edith Silva, embora afirmando que a "escola tudo fará para os ajudar", avisa que estes alunos caso optem pela aprendizagem do mandarim terão que estar sensibilizados para o facto "de apanharem uma carruagem em andamento": É uma questão de escolha, os encarregados de educação têm que estar preparados para as dificuldades, A escola procurará apoiá-los na medida do possível, só que não podemos, de modo algum, afectar o normal funcionamento das aulas, nem prejudicar os outros alunos. Mas posso dizer que estamos a tentar conduzir o ensino por níveis e isso serve, igualmente, para os estuantes que estão cá há mais tempo. quantas vezes na mesma turma há alunos que sabem mais do que outros? O mandarim faz parte do currículo, com 4 horas semanais, tendo, por isso, o mesmo tratamento que qualquer outra disciplina. Vamos procurar que os alunos que sintam mais dificuldades na aprendizagem tenham apoio fora do horário das aulas".
O facto de 90% dos pais terem optado pela via A é, para Edith Silva, um "indicio muito forte da importância que é dada ao ensino do mandarim". Contudo, a directora avisa que "devido à complexidade dos currículos do secundário", há a necessidade de a escola proceder à realização de estudos - que estão em fase de projecto - para aferir a viabilidade de alargar o ensino do mandarim até ao 12º ano:" queremos, daqui a uns anos, que os alunos se sujeitem a exames fora da escola, de forma a aferirmos quais os níveis que atingiram. Não basta dizer que estamos a ensinar, é preciso certificarmo-nos que o estamos a fazer bem."

A subtil internacionalização EPM

Um dos problemas com que a EPM se debate é a falta de capacidade em gerar receitas. A perder alunos a uma média de 30 por cada ano lectivo, a escola procura constantemente novas formas de atrair novos estudantes o que, atendendo à limitação do número de portugueses residentes no território, obriga a direcção e a administração da EPM a olhar para outros "universos". Já em Julho, aquando da visita de Maria de Lurdes Rodrigues ao território, a internacionalização da EPM foi apresentada à Ministra da Educação como uma solução para garantir novos estudantes e receitas para a escola.
Ontem esta questão voltou, a pedido dos jornalistas, a ser abordada por Edith Silva que apontou a escola francesa de Hong Kong como exemplo a seguir.
" É essencial procurarmos outras fontes de alunos ou de receitas. Podemos seguir o exemplo de outras escolas internacionais, com a escola francesa de HK que tem uma secção oriental e uma secção ocidental que é a da língua francesa. Esta secção cobra propinas normais em comparação com as outras escolas, mas na parte internacional esse valor é muito mais elevado o que cobre as despesas da parte francesa. Este é um modelo em que nos podemos inspirar. Na parte portuguesa manter-se-iam estas propinas regulares de Macau e na internacional, seguindo um modelo europeu, teríamos propinas mais elevadas. O pessoal seria o mesmo tal como as instalações, os custos. No fundo, a gestão é a mesma, é seria apenas uma questão de termos mais fontes de receitas. Este é um assunto que já abordamos com a sra ministra, mas que ainda está em estudo. Se avançarmos com uma secção internacional não vamos, logo de inicio, ter todos os anos escolares disponíveis. Começar-se-á pela escolaridade básica de forma a testarmos os processos. Tudo está pensado, agora para o concretizarmos precisamos de tempo e para termos o aval do ministério", esclarece.
Mas, enquanto a internacionalização oficial não passa do papel, a Escola Portuguesa vai, subtilmente, dando os primeiros passos nessa direcção ao preparar-se, já este ano, para leccionar a disciplina de português como língua não materna, aproveitando um despacho de 2006 que autoriza a escola a faze-lo.
" É uma realidade que nós temos cada vez mais alunos provenientes de diversos países como a Venezuela, França, Estados Unidos, Filipinas, Tailândia, entre outros e, como nós somos uma escola portuguesa, isso acarreta problemas para esses alunos. Por isso, o ano passado foi feito um pedido aos professores de português para se prepararem de forma a podermos por em vigor o projecto já este ano", explica a directora.
A ideia deste projecto, diz a directora, é "reforçar o apoio aos alunos e avalia-los num contexto de diferença". Assim, 8 alunos, do sexto ao décimo segundo ano, com dificuldades previamente identificadas, vão integrar uma turma onde o português será ensinado como língua estrangeira.
" Estamos bastante confiantes neste programa que se rege por normas internacionais. Há um programa que precisa depois ser aprovado pelo ministério da educação e, principalmente, ter o aval dos encarregados de educação. Penso que é uma medida muito importante para a própria escola, em termos de captação de mais alunos", refere Edith Silva.

Flexibilização

Outro assunto que tem feito parte da "agenda" da escola é a flexibilização dos currículos, também vista como uma forma de atrair novos alunos. Mais uma vez a directora da escola não fugiu ao tema, revelando que já existe uma proposta e que será apresentada à ministra quando uma comissão da escola se deslocar a Portugal, o que deverá acontecer até ao final do ano.
" A escola irá propor, para os alunos que não pretendem seguir os estudos no ensino superior português, o fim do modelo de agrupamentos. Assim, se a proposta for aprovada os alunos passam a ter um tronco comum, com disciplinas de carácter geral, complementado com disciplinas especificas de cada área", adiantou.

"O apoio do governo tem sido inestimável"

Edith Silva não poupa elogios ao executivo da RAEM e à DSEJ. Recordando que a escola tem o apoio - leia-se subsidio - do governo em 18 projectos, a directora frisa que se não fosse este apoio dificilmente poderia concretizar esses projectos.
Dos objectivos da Escola para este ano, fazem parte um dicionário trilingue de provérbios, em inglês, português e mandarim, assim como um livro de contos de natal, "projectos totalmente subsidiados pelo executivo". A DSEJ, diz Edith Silva em forma de agradecimento, "tem estado a apoiar as escolas, diminuindo um pouco um encargo, pagando aos tecnicos que estão a dar apoio em cinco modalidades diferentes - promoção da leitura, coordenação de actividades extracurriculares, enfermaria, ensino de tecnologia de informação e, por ultimo, gestão de laboratório que constitui uma novidade em relação ao ano lectivo anterior. Estas pessoas não estão a tempo inteiro. Passam 18 a 20 horas semanais na escola não lectivas, isto é, sem dar aulas, podendo, em caso de necessidade da EPM, acumular até 10 horas lectivas. Estes horas são totalmente pagas pela DSEJ, não constituindo encargos para a escola".

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