22.9.08

Dois nadadores morrem em prova de longa distância
Tragédia em Hac Sá

Nunca tinha acontecido, numa competição de natação em Macau. Dois participantes num evento anual em “águas abertas” não resistiram ao esforço e morreram. O coração não aguentou o muito calor que ontem se fazia sentir. Volta a questionar-se a aptidão médica dos atletas do desporto do território

Vítor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

Foi num início de tarde abrasador, como têm sido os últimos em Macau. Apesar da prova ser refrescante, competição de natação, os atletas desde cedo se queixaram de que as temperaturas estavam altas demais para se fazerem ao mar, na praia de Hac Sá, em Coloane.
E as coisas acontecem, por coincidência ou não.
A Associação de Natação de Macau, por sinal uma das mais conceituadas e organizadas do desporto macaense, tinha decidido, este ano, levar a efeito o seu Open anual de águas abertas um pouco mais tarde do que tinha acontecido anteriormente.
A competição passava a realizar-se ao meio dia e meia hora, depois de anos a fio se ter efectuado por volta das 9 e 10 da manhã e já em 2007 às 11 horas. Razão? Desconhece-se. Talvez para ter mais gente a assistir.
Há informações de alguns atletas terem “protestado” a hora mais tardia. Logo num dia em que a temperatura estava elevada, a rondar os 33/34 graus em Coloane.
Os dirigentes da Associação de Natação de Macau, responsáveis totais pela organização, estariam longe de imaginar a tragédia que iria acontecer, passando para segundo plano um evento que costuma ser um convívio entre gente que gosta de nadar e outros que estavam ali para chegar aos primeiros lugares.
Nada sucedeu na categoria de “gente jovem”. Mas quando os mais velhos, a partir dos 46 anos, se lançaram à água, começaram os problemas.

Indisposição de alguns
dá primeiros sinais

Desde cedo se notou a reacção ao esforço excessivo em dia de muito calor, numa distância de mil e duzentos metros, com idas e voltas à água.
Provavelmente alguns dos nadadores, muitos deles antigos praticantes a sério da modalidade, tanto em Macau, como em Hong Kong e da região de Cantão, não quiseram parar aos primeiros sinais de fraqueza e de indisposição. Isso terá sido fatal a dois deles, que acabaram por morrer quando já se encaminhavam para terra.
Segundo testemunhos colhidos no local, foram vários os nadadores que apersentaram dificuldades durante e no final da prova, claramente exaustos e “em perda”. Naturalmente que os mais novos recuperaram com mais facilidade do que os mais velhos.
Tudo parecia no entanto controlado, até porque a organização contava com muitas ajudas, na areia e no mar. Em terra com socorristas e pelo menos uma ambulância, para além de dirigentes com capacidade para intervir em casos menos graves. E na água vários elementos pertencentes à canoagem, com as suas embarcações.

Atletas inanimados
não se afogaram

Já com os concorrentes das classes mais velhas em prova, a partir dos 46 anos, deu-se então o inesperado.
Um primeiro caso “deu à costa” já inanimado. Minutos depois o segundo, com idênticos sintomas. Ambos caíram inanimados na areia.
E apesar de socorridos rapidamente, aos quais foi imediatamente imposta a respiração boca-a-boca, desde logo se receou o pior.
Um residente de Macau, de apelido Poon, de 46 anos de idade (motorista dos Serviços de Educação e Juventude), e um participante da província de Guangdong, mais concretamente da cidade de Jianmen, de nome Che, com 51 anos, encontravam-se em estado grave e apesar de transportados ao hospital, chegaram ali já sem vida. Não tendo morrido por afogamento.

Associação confirma
medidas tomadas

Ficava marcada pela tragédia uma competição de natação, já com duas dezenas de anos de história.
A meio da tarde de ontem e face à gravidade da situação, os dirigentes da Associação de Natação de Macau chamaram os jornalistas para dar informações e explicar o “inexplicável”. Dois nadadores tinham morrido por causas ainda não determinadas.
Confirmaram que todos os participantes tinham entregue, no acto da inscrição, os seus boletins médicos e por isso estavam em condições físicas de disputar uma prova na distância de mil e duzentos metros.
Não aceitam, para já, algumas críticas sobre o horário em que o evento se disputou, considerando que é cedo para se concluir que as altas temperatures estiveram na base das duas mortes e de mais dois casos que tiveram de receber assistência hospitalar.

IDM dá instruções
de segurança desportiva

PONTO FINAL ouviu José Tavares, vice-presidente do Instituto de Desporto, que referiu estar a Associação a cumprir normalmente com as obrigações em termos de segurança dos atletas.
“Para já é ainda cedo para sermos conclusivos. Para já lamentamos a morte de dois atletas nesta prova de natação. As associações estão alertadas para a necessidade de cumprirem os regulamentos por nós impostos, ou seja, recolher os boletins médicos dos atletas antes de quaquer competição. A natação assume maior risco ainda, pelo que os dirigentes têm cumprido o estabelecido.”
Aquele vice do IDM considera que casos destes têm sido raros, “porque primamos em primeiro lugar pela segurança dos nossos atletas. Aquela prova em Hac Sá tinha salva vidas, ambulância e membros da canoagem.”
José Tavares confirmou que o Instituto de Desporto vai recolher dados nos próximos dias para que se tirem conclusões.

Problemas cardíacos
na origem das mortes

Mário Évora, médico cardiologista no Hospital Conde São Januário, referiu ao nosso jornal que “foram problemas cardíacos certamente, com a alta temperatura a ajudar. Deve ter havido um esforço físico muito grande para que essas mortes tivessem ocorrido.”
“Os atletas poderiam estar mal preparados, em especial naquelas idades mais avançadas, mas seria coincidência que vários casos de problemas físicos fatais (cardíacos) ocorressem na mesma prova. O calor ajudou. Mas esta é uma leitura superficial aos acontecimentos, só mais tarde é que se tirarão conclusões.”

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