10.9.08

Está a nascer a terceira loja maçónica em Macau

Chama-se Luz do Oriente e está filiada na Grande Loja Legal de Portugal. Há, tanto quanto se sabe, mais duas lojas maçónicas que se reúnem em Macau

João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com

Deverá ser brevemente autorizada a instalação de uma loja maçónica em Macau, sob a obediência da Grande Loja Legal de Portugal (GLLP).
As fontes do PONTO FINAL dizem que Mário Martim Guia, grão-mestre da GLLP, deverá assinar em breve o decreto constitutivo, com a atribuição do respectivo número (a que se deverá seguir a Cerimónia de Consagração).
A loja, que se chamará Luz do Oriente, está em processo de instalação, designando-se, de acordo com as regras internas, «triângulo» (enquanto não passa a loja); ou seja, tem de ter um mínimo de três elementos.
A Luz do Oriente existe desde Junho de 2007 e reúne-se ao terceiro sábado de cada mês, segundo as informações que estão disponíveis num blogue criado propositadamente (luzoriente.blogspot.com).
Sobre os seus responsáveis nada se sabe, uma vez que o blogue nada diz e é tradição – ainda que com cada vez mais excepções – haver segredo à volta dos nomes.
Ainda assim, num outro blogue que segue a mesma filiação da GLLP, o «mestre instalador» da Luz do Oriente escreve que «como o nome indica somos o ponto de ligação do fecho da luz a caminho do Ocidente. O século XX é o século da globalização que transformou as referências do estado-nação com base nas quais a nossa Soberana Ordem trabalha e foi originada». Nesse pequeno texto o «mestre instalador» explica porque é que o «site» é escrito em inglês: «é a língua franca mundial e o verbo de comunicação no mundo moderno. Por isso a nossa informação não poderia deixar de se expressar nessa língua que é, aliás, a língua de comunhão deste Triângulo. Trata-se do único site de uma Loja/Triângulo de raiz portuguesa em inglês. Por aí passa o universalismo do que fazemos e nossa "corda do amor" ritual».
O PONTO FINAL contactou diversas vezes o «mestre instalador», através do blogue luzoriente.blogspot.com, mas não obteve resposta. As informações disponíveis sobre a Luz do Oriente são aquelas que encontrámos na Internet.

Três lojas maçónicas em Macau

Tanto quanto o PONTO FINAL apurou existem pelo menos três lojas maçónicas em Macau. Ou melhor, reúnem-se elementos de três lojas diferentes. Isto porque uma delas, apesar de se chamar Sino Lusitano Lodge of Macau, será constituída apenas por elementos de Hong Kong, onde tem a sua sede. A loja divulga os nomes dos seus responsáveis, actuais e antigos, mas não se vislumbra nenhum nome de matriz portuguesa, por exemplo (à excepção de um Peter Prata).
A Sino Lusitana reúne-se, de acordo com as informações que estão no seu «site», nos segundos sábados de Março, Maio e Outubro em Macau (e nas segundas quinta-feiras de Junho, Julho, Agosto e na primeira terça de Dezembro em Victoria, Hong Kong). A Sino Lusitana foi criada em Junho de 1988 e tem a sua sede, como acontece com as várias lojas maçónicas de Hong Kong, em Zetland Hall (Kennedy Road, HK).
O seu símbolo é construído com a imagem das ruínas da igreja de S. Paulo e o seu lema «em ritos e costumes diferentes». Em português, portanto.
Sobre a outra loja que existirá em Macau ainda se sabe menos...
A única referência que existe (ou que é pública) diz respeito a uma notícia de 2005, que dava conta da eleição de António Reis, antigo deputado do PS, para grão-mestre (líder) do Grande Oriente Lusitano (GOL).
Nessa notícia dizia-se que «entre as lojas maçónicas com votos por contabilizar contava-se ainda a loja de Macau».
O PONTO FINAL contactou o GOL mas não obteve, mais uma vez, qualquer informação.

Regulares e irregulares;
crentes e não crentes

Existem diversos ritos, mais ou menos tradicionais, que as diferentes lojas maçónicas podem seguir.
Mas, na sua essência, os maçons dividem-se em duas grandes famílias (ou Obediências): regulares e irregulares.
Os regulares (ou tradicionais ou de via sagrada) trabalham sob a invocação de um Criador, Deus, o Grande Arquitecto do Universo e, como se pode ler no «site» da GLLP, das «Três Grandes Luzes da Maçonaria (isto é, o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso)».
Os maçons irregulares (ou liberais, ou de via substituída) não valorizam a via espiritual, preferindo basear-se na constituição do seu próprio país ou na Declaração Universal dos Direitos do Homem; ou seja, da liberdade de crença ou não no Criador.
No caso de Macau, enquanto a Luz do Oriente está associada à Grande Loja Legal de Portugal (ou Grande Loja Regular de Portugal), que é regular, a loja do GOL é irregular.
A GLLP foi criada em 1996, enquanto o GOL vem do século 18.
Relativamente aos ritos, sabe-se que as lojas dependentes da GLLP, trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite enquanto o GOL segue o rito francês.
Da outra loja com ligações a Macau, a Sino-Lusitana, sabe-se que segue o rito irlandês e é portanto regular.
Desde que as lojas estejam integradas na mesma Obediência ou em Obediências que mutuamente se reconheçam, podem e devem manter relações entre si, independentemente do rito que cada uma pratique. No entanto, como é o caso da GLLP e da GOL, se as Lojas se integram em Obediências que mutuamente se não reconhecem, não podem manter relações oficiais entre si, ainda que pratiquem o mesmo rito.
Os contactos, a haver, serão oficiosos ou em actividades de carácter «profano» ou a nível individual (por exemplo em cerimónias fúnebres).

Tradição em Macau

A maçonaria tem tradições em Macau (e mesmo na China, onde chegou via influência inglesa).
Wenceslau de Moraes e Camilo Pessanha eram maçons e desenvolveram em Macau a sua actividade. Mas o nome maçon mais conhecido é o de Sun Yat-Sem.
Segundo o dicionário da Maçonaria, de A. Oliveira Marques, a maçonaria em Macau terá nascido em 1907, com a instalação da loja Luís de Camões (filiada no GOL). A sua existência foi curta.
Durante século XX, mesmo durante a ditadura, a maçonaria nunca terá desaparecido, se não de uma forma organizada (com lojas reconhecidas hierarquicamente) pelo menos com actividade de pequenos grupos. A presença de expatriados na administração local, nomeadamente de muitos ligados ao Partido Socialista, incentiva essa hipótese (destacados dirigentes políticos, com ligações ao GOL, nomeadamente).
Mas como a maçonaria é – como se constata por este artigo, se houvesse dúvidas – uma actividade com muitos segredos, são mais as dúvidas.
A recente vinda de muitos norte-americanos para Macau, com ligações à indústria do jogo, fez aumentar a actividade maçónica, de acordo com informações recolhidas pelo PONTO FINAL, podendo associar-se às lojas existentes.
A história (e a problemática) da maçonaria em Macau é desenvolvida no artigo «A Maçonaria e a República Chinesa», da Revista Macau, nº 54, Outubro de 1996.

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