16.9.08

Modalidade esteve em destaque nos Paraolímpicos
Aproveitar acordo com Portugal
e desenvolver o boccia em Macau

Para muitos era um desporto desconhecido. Mas os Jogos de Pequim tornaram o boccia mais internacional. Portugal contribuiu com resultados positivos. António Fernandes introduziu-o na China. Macau quer aproveitar os protocolos e levar vários atletas a estagiar, com o objectivo Londres/2012

Vitor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

Foram seis dias consecutivos a falar-se de boccia nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, um desporto que nunca antes tinha ganho tanta notoriedade.
E Portugal contribuiu para que a modalidade ficasse a ser mais conhecida a nível internacional, conquistando algumas medalhas e proporcionando imagens televisivas de impacto sentimental, dada a alegria dos participantes, portadores de paralisia cerebral severa.
Para além de Portugal, que é uma das potências mundiais e considerado um verdadeiro exemplo no trabalho intenso de desenvolvimento do boccia, outros países deram nas vistas nestes Paraolímpicos, casos do Brasil, da Espanha e da própria República Popular da China.
Mas para quem não saiba, foi um “carola” destas andanças do desporto para deficientes, que levou para a China o boccia.
“Eles aprenderam depressa, porque têm condições para isso”, palavras de António Fernandes, chefe de missão da delegação de Macau nos Paraolímpicos de Pequim, para além de ser presidente do Comité Paraolímpico de Macau e da Associação Recreativa dos Deficientes de Macau.
“Fui eu de facto que levei o boccia para a China, há cerca de quatro anos, depois de uma viagem que fiz a Portugal e à Tunísia, para fazer cursos da modalidade. Eles, os chineses, aprenderam depressa e estão agora a conseguir excelentes resultados a nível internacional. Portugal tinha começado mais cedo e é na verdade uma das potências do boccia mundial.”

Levei a modalidade
até aos chineses

António Fernandes continua em Pequim a acompanhar os dois atletas da RAEM, Kwong Sui Ieng (atletismo) e Au Loi Si (natação), que não conseguiram, como se previa, qualquer classificação de destaque, não evitando últimos lugares nas provas em que participaram.
Aquele dirigente levou o boccia até Cantão.
“Dei ideias aos responsáveis chineses depois de ter vindo de Portugal. Eles aceitaram e dei então cursos de desenvolvimento básico, com a participação de cerca de uma centena de interessados de 30 cidades ou províncias da China. A aceitação foi tão grande que rapidamente o boccia se extendeu a todo o país, com vários atletas a mostrarem grandes progressos nestes Jogos Paraolímpicos, tendo inclusivamente discutido algumas primeiras posições. Fico satisfeito, porque muitos deles foram meus alunos.”
Relativamente a Macau, o progresso tem-se dado mais lentamente, por falta de estruturas e de fortes apoios, ao contrário do que acontece na China ou em Portugal.

Falta rotina de provas
para Macau progredir

O PONTO FINAL quis saber como está o boccia no território e António Fernandes reconheceu que há muito a fazer, mas que se está no bom caminho, principalmente depois destes Jogos Paraolímpicos de Pequim:
“Mantive muitos contactos com dirigentes de vários países e vamos agora, no regresso a Macau, dar um maior incremento à modalidade.
Quisemos ter alguns atletas nesta competição, mas por diversas razões não conseguimos”, salientou António Fernandes, para quem a “falta de rotina de competição internacional é o grande obstáculo a que possamos ter jogadores num nível superior e garantir quota para participar nos Paraolímpicos.”
Na sequência das conversas com dirigentes de Portugal e Grã-Bretanha, principalmente estes, Macau vai ter, a partir de agora, mais apoios para desenvolver a modalidade e poder enviar atletas para estagiar em Portugal, com apoio financeiro da Grã-Bretanha.
“O nosso esforço está a ser reconhecido por todo o lado e Portugal irá receber, num futuro próximo, alguns dos nossos jogadores de boccia, que necessitam de treino intenso e presença em provas internacionais, que se realizam com maior frequência na Europa. Em Portugal a área da paralisia cerebral está muito desenvolvida e por isso temos de aproveitar a amizade que nos une e os protocolos assinados em termos de desporto na generalidade, onde se inclui a área dos deficientes.”

Preparar um grupo
para Londres/2012

Segundo António Fernandes, “Macau tem actualmente cerca de uma dezenas de praticantes de boccia com nível para entrar em competições e espero, com os apoios prometidos, para além dos auxílios oficiais da RAEM, poder garantir a presença nos campeonatos do mundo, o que não foi possível nestes últimos anos. Só assim poderemos arrecadar pontos que nos permitem no futuro ter mais atletas a competir nos Jogos Paraolímpicos.”
O objectivo imediato, mesmo a quatro anos de distância, é preparar uma equipa para os Jogos de Londres/2012, daí a necessidade de se começar a desenvolver ainda mais o boccia, pedindo a Portugal a sua colaboração, como um dos países de maior prestígio internacional, numa modalidade que tem conhecido enormes progressos nos últimos dez anos.

Boccia era praticado
por famílias reais

O boccia começou a ser praticado há centenas de anos, na Europa, talvez em França (dizem os entendidos…), praticado entre famílias reais, em jardins e palácios, mais para os idosos.
A Federação Internacional de Paralisia Cerebral chegou à conclusão, muitos anos depois, que aquela actividade poderia ser alargada e adaptada aos deficientes.
Foi assim que se deram os primeiros passos para que o boccia se tornasse num desporto, com forte implantação na Europa.
Como Portugal desenvolvia estudos na área da paralisia cerebral, com enorme dedicação e sucesso, então não foi difícil também desenvolver a modalidade. Daí os actuais bons resultados e as medalhas alcançadas em Pequim.
“Por isso é que pretendemos enviar um grupo de jogadores para fazer estágios e jogos em Portugal. A partir daí será mais fácil garantirmos a subida gradual no ranking internacional.”
Se se concretizar esta possibilidade de progresso dos jogadores de boccia, Macau terá condições (financeiras e não só), para ter uma comitiva no próximo Mundial, que deverá ser disputado em 2009 na Holanda ou na Hungria, países que para já se candidataram à organização.

Bons resultados
nos eventos asiáticos

Enquanto isso não acontece, Macau vai continuando a enviar atletas a competições no continente asiático, onde têm sido várias as medalhas alcançadas. Primeiro nos Jogos FESPIC e agora no evento que lhe sucedeu, os Jogos Asiáticos para Deficientes.
Em Maio, em Singapura, Macau arrecadou uma medalha de ouro no boccia feminino, classe 1.
Em 2010, os Asiáticos vão decorrer em Cantão, tal como as competições dos atletas “normais”, pelo que o território terá de se preparar para tentar das nas vistas.
E ali mesmo, em Cantão, vários atletas podem brevemente fazer estágios, “uma vez que temos boas relações com os dirigentes daquela região da China, principalmente depois de eu próprio ter desenvolvido o boccia naquela província. Teremos de aproveitar as ofertas que nos fazem e o que temos aqui perto, para além de não descurarmos a possibilidade de preparação em locais mais distantes, como Portugal e Grã-Bretanha.

Falta de controlo
dos membros superiores

De referir que o boccia é praticado por deficientes com paralisia cerebral aguda, resultantes de traumatismos cranianos ou problemas na medula, que provocaram a deficiência dos membros superiores. Há uma evidente falta de controlo dos movimentos dos braços
Daí a pouca força que os jogadores têm para lançar as bolas, cujo peso varia entre as 350 e as 450 gramas. A distância não vai muito além dos 10 metros.
O boccia joga-se com seis bolas, uma das quais branca, que é lançada em primeiro lugar. Tenta-se depois aproximar as restantes, de outras cores, encarnada ou azul. Cada jogador faz seis lançamentos.
Recorde-se que a questão da paralisia cerebral tem originado grande polémica no seio dos Jogos Paraolímpicos, não tendo sido admitido até hoje nas competições, com a excepção do boccia, uma vez que é evidente a severidade da doença.
Fizeram-se algumas tentativas de integrar várias outras modalidades com deficientes cerebrais, “mas houve muita aldrabice e a Federação Internacional acabou com isso. Agora voltam os dirigentes a sentar-se à mesa, tendo em vista os Jogos de Londres.”

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