9.9.08

Moisés Fernandes considera que o Fórum reforça o peso da RAEM na política externa da China
O eterno papel de Macau

Moisés Fernandes esteve ontem no IPM para uma conferencia sobre o papel de Macau como plataforma da China para a Lusofonia. O presidente do Instituto Confúcio diz que o Fórum de Cooperação está a reactivar um papel que Macau tem desde o século XVI e que foi perdido com o final do império português

Rui Cid

As cerca de 20 pessoas que ontem ao final da tarde estiveram no auditório número 3 do Instituto Politécnico de Macau ouviram Moisés Fernandes considerar que há indícios de que a República Popular da China está a caminhar para um Estado Federal, tal como antecipou aos jornalistas, uns minutos antes do início da conferência sobre o papel da RAEM como plataforma da China para a Lusofonia.
"Tendo a RPC um sistema político unitário, Macau e Hong Kong têm uma grande autonomia. Isso levanta uma questão - será a China um Estado Unitário, ou estará a evoluir gradualmente para um estado federal? Não há uma resposta definitiva. Há, isso sim, indícios que estamos a assistir a que há aqui algumas coisas que estão a evoluir no sentido de um Estado Federal em relação às duas RAE - não estou a falar do resto da divisão política administrativa da China - porque elas têm um grande papel na política externa e na política económica do país. No caso de Macau, o elo de ligação com os países lusófonos. No caso de HK, a grande praça financeira internacional que já vinha de antes e continua, não se mitigou, embora Xangai tenha tirado um pouco desse lastro, HK permanece uma grande praça financeira a nível internacional e isso é muito importante. Será que, no futuro, a China irá evoluir neste sentido? A pouco e pouco, embora tenha uma Constituição que diga que é um Estado Unitário, encontramos já algumas características de um Estado Federal, embora incipiente, mas existentes", explicou o presidente do Instituto Confúcio.

"China procura Macau porque
falta quem domine o português"


Recentemente, numa entrevista à agencia Lusa, o investigador Luís Brites Pereira, responsável pelo primeiro estudo sobre a utilização de Macau como plataforma da China para a África lusófona , considerou que a RPC não precisa de facilitadores nas suas investidas no continente, pelo que o Fórum de Cooperação pode ter um papel secundário nessas relações. Confrontado pelo jornalistas acerca desta opinião do académico da Universidade Nova de Lisboa, Moisés Fernandes disse não acreditar que isso possa vir a acontecer devido ao "muitos investimentos que a China tem nos países lusófonos", especialmente no Brasil e em Angola.
Moisés Fernandes sublinha que têm surgido alguns problemas na realização desses investimentos - que passam por acessos a recursos naturais, projectos de grandes infra-estruturas e empréstimos avultadíssimos, que no caso de Angola chegam aos 14 mil milhões de dólares, com taxas muito favoráveis, abaixo do que é praticado no mercado internacional - devido às barreiras linguísticas e é aí que Macau tem um papel fulcral.
"É um facto que há problemas, essencialmente ao nível da língua e da cultura. A língua portuguesa não é uma língua popular na China, como o inglês, o francês, ou até o alemão e o espanhol. Muitas vezes há, na parte empresarial, uma diferença na tradição africana, brasileira ou portuguesa do que o que se pratica na China, são realidades algo diferentes. Isto leva a que haja uma grande necessidade da parte da China para ter alguém que faça essa intermediação. Macau oferece isso à China, razão pela qual a china não decidiu por o seu Secretariado, delegou essas funções ao governo de Macau. Vejamos que em Hong Kong, a china não criou um fórum de cooperação para os países de língua inglesa. No caso especifico dos países de língua oficial portuguesa, há necessidade, uma vez que há apenas 4 universidades públicas - 2 em Pequim, 1 em Xangai e outra em Tinjin - que têm departamentos de estudos portugueses que não formam quadros em número suficiente e vão levar anos, porque isto de formar leva anos, não é investir hoje e amanhã estão aí os resultados. As universidades chinesas não têm conseguido responder às necessidades e Macau oferece essa possibilidade", justificou.
Além do factor "língua", há, nas palavras do presidente do Instituto Confúcio, outra razão - histórica - para tornar Macau no elo de ligação entre a China e a África Lusófona que é hoje: "Muitas pessoas que estiveram aqui, quer portugueses, quer macaenses, têm muitos contactos, muitos passaram por África, conhecem bem a realidade africana, assistiram ao fim do império português e têm imensos contactos nessas áreas e isso é, também, um agente facilitador destas ligações com os países de língua portuguesa. As autoridades centrais e as de Macau reconhecem esse papel ao território."
No fundo, frisa Moisés Fernandes, o Fórum para a Cooperação faz de Macau aquilo que sempre foi - "um lugar onde se facilitava" e que o fim do império português desmoronou.
"As relações económicas que havia dentro do império que eram fortes - Macau exportava muito para Angola, Moçambique e Timor - e com o fim do império tudo isso desapareceu, esses países tomaram outras opções. Hoje em dia, tudo isso voltou e, portanto, o que os países de língua portuguesa em África necessitam é que alguém os ajude, não têm quadros nessa área, a China também não, e portanto recorrem a um local onde existem esses elementos, que é Macau. É um reassumir um papel que já esteve cá antes. Só que houve um hiato muito grande e foi reactivado em 2003 quando foi formado o Fórum Macau que tem vindo a crescer - os números assim provam. Há uma panóplia muito grande de coisas que a china oferece a esses países, e que eles necessitam".

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