Subsídios atribuídos a Macau desceram, pela primeira vez, fasquia do milhão de euros em 2007
A Fundação cada vez menos Oriente
Em sete anos a Fundação Oriente reduziu cinco vezes os subsídios atribuídos a Macau; no ano passado, pela primeira vez, desceram do milhão de euros. E a promessa é que continuem a descer. Tudo porque, agora, a Fundação só vê o Oriente através do Museu
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
A Fundação cada vez menos Oriente
Em sete anos a Fundação Oriente reduziu cinco vezes os subsídios atribuídos a Macau; no ano passado, pela primeira vez, desceram do milhão de euros. E a promessa é que continuem a descer. Tudo porque, agora, a Fundação só vê o Oriente através do Museu
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
A Fundação Oriente (FO) continua a diminuir significativamente a sua presença em Macau como o confirma o relatório de contas e actividades respeitante ao ano passado.
Pela primeira vez, a Fundação aproximou-se do milhão de euros colocados em Macau, valor que será ainda inferior se descontarmos os «custos de estrutura» que a FO imputa a cada subsídio dado (no total de subsídios atribuídos em 2007, de cerca de 3 milhões e meio de euros, quase um milhão e meio é afectação de custos de estrutura, política seguida desde 2004, de acordo com o documento).
Do 1,114 milhão de euros afectos a Macau, 948 mil euros dizem respeito aos subsídios para a Escola Portuguesa e para o IPOR, o que significa que sobram cerca de 150 mil euros, e o que vale por dizer que a Casa Garden teve para gerir, em 2007, cerca de 150 mil euros (valor que já inclui, na sua proporção, os tais custos de estrutura, e que portanto será, na prática, menor).
O quadro que apresentamos nesta página é elucidativo do desinvestimento da FO em Macau (coluna do meio), nomeadamente desde 2001. Relativamente aos subsídios gastos em Portugal também há uma diminuição mas há algumas notas que se podem retirar; por exemplo, se até 2001, Macau recebia muito mais do que Lisboa, e se 2002 e 2003 representam anos de equilíbrio entre os dois destinos, o desequilíbrio começou a partir de 2004; nos últimos três anos tem-se acentuado esse diferencial, à custa da menorização do papel em Macau.
Relativamente a 2006, os subsídios entregues em Portugal diminuíram em 300 mil euros e os que vieram para o Oriente 800 mil euros.
Isto não impede a administração da FO de afirmar, no relatório do ano passado (e recentemente trazido a público), que «continua a desenvolver a sua actividade cultural e social de forma significativa em Macau e noutras regiões do Oriente».
A leitura dos números deste e dos relatórios anteriores mostra que se por exemplo em 2001 a FO enviava para Macau três milhões e meio de euros para a Escola Portuguesa e IPOR (libertando mais um milhão e meio para apoiar outras actividades), no ano passado os subsídios à educação ficaram-se pelos 948 mil euros. Mais, de 2006 para 2007 estes subsídios à educação (de acordo com o documento, Escola e IPOR) passaram de 1,754 milhões de euros para os tais 948 mil – uma redução de quase cem por cento.
«Progressiva redução de custos com subsídios»
Por aquilo que se percebe da leitura do documento que estamos a citar, 2008 será ainda ano de mais cortes. O Conselho de Administração diz que «após 20 anos de significativo suporte aos mais diversificados projectos de natureza cultural, educativa, artística, filantrópica e social, especialmente em Macau, Goa, Timor e Portugal, a Fundação Oriente terá que passar a cumprir a sua missão estatutária, através de um maior enfoque de actividade centrada no Museu do Oriente, daqui resultando um reajustamento na sua política de gestão financeira».
No mesmo texto pode ler-se ainda que «num contexto de maturidade da Fundação, após 20 anos de vida, uma gestão prudente ditará, doravante, como inevitável, uma progressiva redução de custos com subsídios, seja em Portugal seja nas zonas de influência das delegações no estrangeiro, por força do desvio de recursos para a concretização da programação cultural do Museu, nunca totalmente coberta por receitas próprias».
A Fundação atribuiu ainda 136 mil euros de subsídios na Índia (103 mil), Timor-Leste (32 mil) e «RPC/Japão/Indonésia» (mil euros).
Ano negativo
Coincidindo com os investimentos no Museu, a Fundação tem encontrado anos pouco favoráveis às suas carteiras financeiras e aos seus investimentos (excepto para as aplicações feitas em Portugal, que registaram, no ano passado, taxas de rentabilidade média positivas), muito por força das variações cambiais que, com o euro forte e outras moedas fracas, também não ajudaram. Em 2007, tal como em 2006, o balanço de despesas e de receitas foi negativo, o que contribui para diminuir os activos da FO e, sobretudo, não permite gerar receitas (a partir de eventuais lucros) para serem libertadas.
Se em 2006 houve quase quatro milhões de euros (3,700) de saldo negativo, em 2007 foram perto de três milhões e meio de euros (curiosamente, o mesmo valor gasto, durante todo o ano, com os subsídios).
Como consequência directa (mas não só, há também variações negativas em capitais de algumas empresas participadas maioritariamente pela FO) o património e o activo líquidos foram reduzidos no ano passado.
A Fundação gastou no ano passado mais dinheiro com custos de pessoal, valor que poderá ainda aumentar em 2008, com a entrada de mais colaboradores para o Museu.
O que este – e os documentos anteriores mostram – é que não se confirmou o anunciado, há alguns anos, plano de desinvestimentos em património e empresas por parte da FO, que serviria para libertar fundos, por exemplo, para o Museu. O relatório de 2007 regista apenas 122 mil euros de vendas, no caso uma loja em Macau, o que permitiu concluir «as vendas de fracções destinadas a habitação e comércio, construídas pela Fundação, quer em Lisboa quer em Macau».
Aliás, as receitas geradas no ano passado (11 milhões de euros) ficaram abaixo das receitas do ano anterior (12 milhões) e têm origem nas aplicações financeiras quer no estrangeiro quer em Portugal.
Relativamente ao próximo relatório, que incorporará a abertura do Museu do Oriente, a curiosidade principal é perceber se os subsídios afectos a Macau continuam a descida e se os valores para a Escola Portuguesa e IPOR continuam a decrescer.