1.9.08

Trio de jornalistas portugueses falou em Macau sobre trabalho nas olimpíadas de Pequim
Memórias Olímpicas

Do tema Liberdade de Imprensa às experiências humanas e profissionais. Três dos cerca de 30 profissionais de comunicação de Portugal, e do único jornalista português de Macau que cobriram as olimpíadas de Pequim, abriram o livro e fizeram o relato da cobertura dos Jogos na primeira pessoa

Alfredo Vaz

Mais habituados a relatarem notícias do que a serem figura da notícia, três profissionais da imprensa estiveram no centro das atenções num jantar/ conferência que decorreu a meio da semana passada no Clube Militar, uma iniciativa da Associação dos Órgãos de Comunicação Social em Língua Portuguesa e Inglesa.
Quase duas dúzias de jornalistas conviveram ao jantar, tendo-se-lhes juntado mais uma mão cheia de outras pessoas para ouviram as estórias dos bastidores contadas na primeira pessoa pelos jornalistas Gilberto Lopes (Rádio Macau, em serviço especial para o jornal A Bola) e Manuel Fernandes Silva e Hugo Gilberto, enviados especiais da televisão pública, RTP.
Um dos temas mais apetecidos tinha a ver com o exercício da profissão, na vertente liberdade de imprensa. De uma forma ou de outras, todos reconheceram não ter havido ‘restrições, de facto’, embora se sentissem limites.
Gilberto Lopes, Chefe da Rádio Macau, canal português, acabou por ser o único jornalista da imprensa portuguesa de Macau a estar nos Jogos Olímpicos. Correspondente do jornal A bola em Macau, foi um dos quatro enviados especiais do jornal desportivo português mais antigo e de maior tiragem. Complementou o trabalho com uma série de peças diárias para a Rádio Macau. Estreante na cobertura de umas olimpíadas, Gilberto Lopes diz que “Não, eu não senti. Mas estamos a falar de uma competição pluri desportiva, que se realiza em muitos locais diferentes, com provas em simultâneo, admito que possa ter havido algum atropelo à liberdade de imprensa. Mas no nosso caso, de jornalistas de A Bola, e dos jornalistas portugueses com quem fui conversando, nenhum colega nosso se queixou do quer que fosse, neste particular.”
Já Hugo Gilberto trouxe outra história para contar: “Fiz uma reportagem sobre as manifestações que estariam para ocorrer. Esperava-se um turbilhão de manifestações, centenas de manifestações, nenhuma foi autorizada. Pedi uma entrevista a um jornalista australiano baseado há muitos anos em Pequim, o Rowen Callick, correspondente do Australian News, que me disse que sim senhor, mas fazemos a entrevista em espaço internacional, ou seja, no local dos Media, o chamado MPC (Main Press Centre). Ou seja, ele não queria falar sobre o assunto na cidade em si, mas em espaço neutro, em espaço internacional, por assim dizer. E tive também a convicção de que não tive limitações concretas e objectivas no exercício do meu trabalho, porque trabalho para um órgão que é seguramente o mais importante do meu pais, mas que não é dos maiores do mundo. Se eu trabalhasse para a NBC ou para a BBC, se calhar tinha outro tipo de restrições.”
Colega de Hugo Gilberto na RTP, Manuel Fernandes Silva, diz ter registado duas situações distintas.“Realizei duas situações diferentes: quando estávamos em trabalho nas zonas de competição, tudo nos era facilitado. Mas quando saiamos daí para tentar fazer outras histórias paralelas, percebíamos que havia uma certa vigilância, um pouco passiva, mas havia. Julgo que essa é uma das particularidades destes Jogos: completamente diferentes dentro e fora dos locais de competição.” “Nunca me senti censurado, mas senti-me vigiado. Nunca tive receio de fazer algum tipo de reportagem, ou de abordar determinado assunto. Agora, percebi perfeitamente que há assuntos extra competição que eram monitorizados. Dou-te um exemplo muito concreto, quis fazer uma reportagem sobre a poluição que se fazia sentir em Pequim, e para isso falei com um activista ambiental chinês que reside na cidade. Combinámos uma entrevista, mas ele disse-me que sim senhor, que tinha muito prazer em falar comigo, mas que tinha que ser em sua casa. Não queria fazer na rua, num local público, que preferia que fosse num local resguardado. Ou seja, tivemos liberdade para fazer uma reportagem, mas dentro de certos limites.

Organização e companheirismo foram exemplares

Mais próximo da realidade da China, e por isso mais identificado com as vicissitudes do quotidiano, Gilberto Lopes notou uma organização exemplar, mas tocou-lhe fundo o companheirismo entre colegas de profissão: “Penso que a China, preparou-se para os Jogos de maneira exemplar. Isso viu-se em termos desportivos – com 51 medalhas de ouro, e na grandiosidade das cerimónias de abertura e de encerramento – sobretudo e de operacionalidade, da fluidez com as coisas se passaram.” “Se para um atleta ir aos Jogos Olímpicos é importante, para um jornalista também é muito marcante. Tendo sido os Jogos aqui na China, para mim foi muito gratificante. Havia tantos jornalistas sempre a procurarem o seu ângulo, mas também sempre dispostos a ajudar o colega. É evidente que os jornalistas estão todos lá à procura de coisas novas para contar, e - se possível – exclusivas, mas exclusivas aqui entre comas, mas vi também sempre muita solidariedade entre os camaradas - por exemplo troca de fotografias, ou de informação quando estavam atletas portugueses a competirem em lugares diferentes - independentemente de estarem a trabalhar para órgãos de comunicação social diferentes.”
Gilberto Lopes teve ainda o raro privilégio de visitar a aldeia olímpica, onde os jornalistas só entravam por convite. “Valeu-lhe’
o convite de Humberto Évora, médico fisioterapeuta radicado em Macau, mas que foi médico da delegação de Cabo Verde
“Foi uma experiência marcante. A zona em si tem muito verde e espaço largos, piscina, um grande ginásio. Os quartos, que estão já todos vendidos, são acolhedores e agradáveis.”
No aspecto da organização há unanimidade. A China organizou uma excelente competição, e os jornalistas tiveram todas as condições de trabalho. Para Manuel Fernandes Silva, os Jogos foram “muito bem organizados. Em relação à perspectiva que tinha de Atenas (2004) há de facto uma organização superior por parte dos chineses. Uma extrema necessidade de mostrar aos jornalistas que tudo estava bem organizado, de serem extremamente educados, afáveis para todos os profissionais.”
Já Hugo Gilberto saiu de Pequim com uma leitura diferente daquela que fazia da China: “Todos nós quando fomos para a China fizemos um conjunto de leituras, de pesquisas, para procurar saber mais sobre a China, para não sermos surpreendidos. E todos nós fixamos as nossas expectativas num determinado patamar. Eu confesso que ao nível da economia da China, do dia a dia das pessoas, as minhas expectativas foram superadas. É mais ocidental do que eu estava à espera, incluindo defeitos e virtudes. Ao nível politico, é mais Velha China do que aquilo do que eu estava à espera.”

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