8.10.08

Segunda-Feira, 29 de Setembro de 2008

Bispos lusófonos vistam Igrejas na província de Cantão

"A Fé continua viva na China "

Dez dos doze bispos que participaram no VIII encontro das conferências episcopais das igrejas lusófonas que decorreu até ontem no território, estiveram, este sábado, na província de Cantão, onde visitaram duas paróquias católicas estabelecidas no continente pela diocese de Macau.
Logo pela manhã, a viagem iniciou-se com uma visita à paróquia do Imaculado Coração de Maria em Jian Meng que acolhe cerca de 100 dos quase 20 mil católicos existentes na cidade, aos quais se juntam 6 sacerdotes.
Na parte da tarde, já depois do almoço em Kong Mun, a comitiva seguiu viagem até à paróquia do Imaculado Coração de Maria, na diocese de Sek Kei que conta com 700 fiéis e realiza uma média de 25 baptizados por ano. Durante a visita, os bispos acompanharam as obras de recuperação da igreja paroquial - custeadas em parte pela diocese de Macau - construída hà duas décadas e inspirada no estilo português neo-gótico.
Em jeito de balanço, D. Jorge Ortiga, presidente da conferência episcopal portuguesa mostrou-se agradado com a visita, chegando mesmo a afirmar que "a Fé continua viva na China".
"Impressionou-me a organização que têm do catecumenato, sinal de que há pessoas interessadas em converter-se ao cristianismo. Ao mesmo tempo, a recuperação e actualização das estruturas materiais são sinal evidente de uma fé viva" declarou o bispo.
Num comunicado à imprensa, o secretariado do VIII Encontro explica que havia, por parte dos parte dos "conferencistas", uma "compreensível curiosidade" em conhecer o trabalho que Igreja Católica, através, sobretudo, das Dioceses de Macau e Hong Kong, sem esquecer a denominada Igreja Patriótica, tem vindo a realizar no sentido de uma progressiva aproximação entre as duas igrejas.
"Esta visita permitiu-nos perceber melhor a decisão, em boa tomada, de se promover este encontro na Diocese de Macau, uma vez que este gesto de partilha, presença e comunhão de todas as Igrejas Lusófonas com a Igreja de Macau poderá vir a dar um contributo simbólico para o evoluir da aproximação entre as Igrejas Patriótica e Católica", acrescenta o comunicado.

" Relação entre a China e a Santa Sé ultrapassa-nos"

Ontem, durante a cerimónia de encerramento do encontro, os bispos assumiram a percepção de "modo mais agudo" as dificuldades nos projectos da Igreja para a evangelização da China, mas asseguram, ao mesmo tempo, que "isso não os faz baixar os braços."
"O rigoroso controlo da prática religiosa no continente chinês motiva a esperança para o paciente trabalho missionário", sustentam.
As relações - tensas - entre o Vaticano e o governo Central não deixaram de ser tema de debate ao longo dos 5 dias em que decorreu o encontro, mas D. Jorge Ortiga salientou que os bispos não abordaram o tema, de forma explícita, por ser uma "questão que nos ultrapassa."

Encontro, também, com Edmund Ho

O governo da RAEM não deixou passar em claro a presença dos representantes das igrejas lusófonas no território, tendo Edmund Ho aproveitado a ocasião para receber, em audiência, todos os participantes no Encontro.
D, Jorge Ortiga, na qualidade de Presidente da Conferência Episcopal de Portugal, fez questão de salientar que a realização do encontro no território constituiu "um momento privilegiado para fazer memória de um tempo em que os dois povos de Portugal e Macau se encontraram e fizeram um caminho histórico conjunto que, por lado, deixou saudades, mas, por outro, constitui um desafio para percursos autónomos mas trilhados em leal colaboração entre os dois Povos."

Pereira Coutinho diz que ouve "mão negra" do Governo

ATFM sozinha na rua


A manifestação convocada pela Associação dos Trabalhos da Função Pública de Maca reuniu ontem cerca de meio milhar de pessoas, muitas delas de máscara cirúrgica na cara, para evitar "retaliações", como referiu o líder da associação, Pereira Coutinho.
O dirigente da ATFPM, em declarações aos jornalistas, no final da manifestação, revelou que o site da associação foi "invadido por 'hackers" e colocado fora de serviço, o que trouxe dificuldades acrescidas à mobilização de trabalhadores para a manifestação.
Pereira Coutinho deixou no ar suspeitas quanto à origem do ataque e afirmou esperar que este incidente seja "um caso isolado".
A utilização de máscaras pelos manifestantes teve como objectivo evitar que eles sejam identificados, porque "em Macau, o prato do dia é a retaliação", disse o dirigente da ATFPM.
Quanto à resposta do Governo sobre as reivindicações dos trabalhadores, nomeadamente a exigência de um aumento, para todo o pessoal, igual ao aprovado para os cargos de chefia, Pereira Coutinho não mostrou grandes esperanças em que essa exigência fosse atendida.
"Tenho algumas dúvidas, porque este governo é prepotente e autoritário, não ouve, não dialoga com os representantes das associações", afirmou. "Não acredito que isto possa ser resolvido por este governo".
No decorrer da manifestação, os participantes apelaram à demissão do director dos Serviços de Educação, Sou, Chu Fai, a quem acusam de autoritarismo e de abuso de poder, devido à não renovação dos contratos de dois professores, despedidos "sem fundamentos", no entender do dirigente da ATFPM.
Questionado pelos jornalistas sobre a razão porque a Associação Educativa da Função Pública decidiu não participar na manifestação, Pereira Coutinho referiu a existência de pressões sobre os dirigentes daquela associação, falando inclusivé na "mão negra" do governo, a quem responsabilizou pelas pressões.
Ao longo do percurso de pouco mais de um quilómetro, com a cara tapada e máscaras cirúrgicas, de «t-shirt« e chapéu preto, os funcionários gritaram palavras de ordem para reivindicar ao governo melhores condições de trabalho.
No meio da manifestação, que se desenrolou sem incidentes, vários agentes policiais à paisana iam registando em vídeo e fotografias os movimentos dos manifestantes, enquanto polícias fardados controlavam o andamento do protesto entre a sede da Associação dos trabalhadores da função pública de Macau (ATFPM) e a sede do governo.
Pereira Coutinho considerou a adesão à manifestação muito positiva, salientando que associação tinha distribuído cerca de um milhar de máscaras cirúrgicas. No entanto, o número de manifestantes terá rondado cerca de 600.

Guilherme Ung Vai Meng volta às exposições, dez anos depois

Arte sem cerimónias


A última exposição individual que fez foi há dez anos. Já era tempo de Guilherme Ung Vai Meng voltar. Sem cerimónias, discursos nem poses oficiais. Só com os amigos, dele e da arte


Hugo Pinto
hugommpinto@gmail.com


Não houve cerimónia de corta fitas, discursos e também não era suposto haver o tradicional envio de flores, não fora um velho amigo do artista não ter seguido a recomendação que estava expressa no convite. A ocasião não era para menos. Dez anos depois, Guilherme Ung Vai Meng voltou a ter o nome no cartaz de uma exposição individual. Durante este período, o artista deu lugar ao funcionário. Em 1999, tornou-se o primeiro director do Museu de Arte de Macau, instituição que deixou em Junho para se tornar director do Departamento de Actividades Culturais e Recreativas do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Ainda nos corredores da administração da "coisa pública", mas, e como o próprio explicou ao PONTO FINAL, mais "em contacto com a população". E com os amigos. Agora, pôs de lado o papel timbrado, os ofícios e a esferográfica e voltou aos cadernos e aos lápis.
"A arte deve ser uma coisa natural", diz Ung Vai Meng. "Estou muito contente. Mudei de posição e agora posso concentrar-me mais na minha arte. É uma boa oportunidade para começar a ter estes encontros de amigos. A arte, para mim, serviu sempre para ligar os amigos. Passei esta tarde [sábado] na conversa com eles. Tinha saudades deste convívio."

O que dizem os traços

A exposição que pode ser vista no Centro de Indústrias Criativas até ao próximo dia 18 de Outubro, intitulada "The Speech of Strokes", compreende cerca de duas dezenas de desenhos feitos a lápis. Lugares e edifícios que o artista conheceu em diversas viagens que fez pelo Mundo transpostos para folhas brancas com minúcia de observador mas também com devoção de admirador. Desde as aldeias da China até aos museus da Velha Europa, lugares distantes de Bogotá, sem esquecer o centro histórico de Macau. "Comecei a fazer desenhos quando era pequeno. Nas viagens que fazia, em vez de tirar fotografias, desenhava." Ung Vai Meng tem uma extensa obra de pintura abstracta, mas os desenhos, tal como as aguarelas, ocuparam sempre um lugar especial. Próprio de quem tem uma memória figurativa e, mais que tudo, afectiva. "Gosto de estar num lugar por duas ou três horas. Gosto de ver as pessoas, conversar com elas. Sentir o vento, sentir os cheiros... Gosto de perceber o ambiente."
Tanto sentir guardado na memória traz, inevitavelmente, saudade. São os lugares mais especiais do que todo os outros. "Gosto muito de algumas aldeias da China. Gostei também muito da América do Sul. Portugal... Há muitos anos que não vou a Portugal e tenho saudades. Talvez volte lá no próximo ano."

Arte da proximidade

Voltando a Macau e às funções que exerce desde Junho no IACM, Ung Vai Meng afirma que ainda está em fase de ambientação à equipa que o rodeia, bem como às próprias funções inerentes ao cargo. "Tenho que saber bem o que existe e com o que posso contar para perceber o que posso fazer. Quero coordenar com os meus colegas orientações muito claras." O principal objectivo, porém, está já traçado. "Para mim, este serviço é muito importante porque implica estar perto dos cidadãos. Há proximidade." Mas esta proximidade, adverte, tem que ser conquistada. "É preciso chamar as pessoas às actividades culturais, envolvê-las nestas questões." Para já, Ung Vai Meng mostra-se cheio de optimismo quanto ao futuro, não só porque há vontade de fazer coisas, mas também porque Macau precisa de desenvolver mais uma face cultural. Como é costume dizer, juntou-se o "útil" ao "agradável".

Editorial

Regresso

Em tempos que já lá vão, a distância era um obstáculo inultrapassável para quem estava longe. As notícias viajavam a outro ritmo e pouco mais do que as cartas da família e dos amigos nos traziam novidades dos sítios que tínhamos deixado. Ao longo dos últimos anos, vi Macau crescer e desenvolver-se, a um ritmo que surpreendeu tudo e todos. A cada visita - e foram muitas e com alguma regularidade - olhava para esta cidade e, quando partia, perguntava a mim próprio o que iria encontrar, da próxima vez que cá voltasse.
Mas em cada regresso, o receio de que Macau estivesse a perder aqueles traços que marcam a diferença, quase desaparecia com um simples passeio pelas zonas mais tradicionais e populares, como o Porto Interior. As tendinhas espalhadas pela rua fora, os cafés típicos, onde gente de olhar tranquilo folheia os jornais, as lojas de frutas com a sua diversidade e cor únicas são um contraponto à imensidão de edifícios e anúncios luminosos que enchem a Taipa.
Ver que essa Macau resiste é como contemplar uma mulher que sabe envelhecer com elegância, sem tentar agarrar o tempo, sabendo que ele passa e traz consigo, inevitavelmente, mudanças. Nem todas serão boas, mas o balanço parece-me positivo, em termos gerais - mesmo com o risco de esta avaliação ainda ser algo superficial, própria de alguém que volta, depois de uma longa ausência.
E entre as surpresas de descobrir de novo Macau, para além da percepção de que as pessoas e a própria sociedade também mudou, há pormenores mais simples, da rotina diária, que saltam aos olhos.
O desenvolvimento económico trouxe consigo grandes empresas, investimentos colossais e maiores oportunidades de trabalho para a população. Mas também provocou uma nítida e acentuada subida no custo de vida. A rapidez com que as notas desaparecem da carteira é uma das realidades com que quem regressa tem que se confrontar. É certo que esse aumento tem sido compensado com o crescimento dos salários que se praticam no mercado de trabalho. Mas não deixa de ser algo preocupante. Sobretudo quando se notam já alguns indícios de abrandamento, nas receitas que sustentam o orçamento do território. Esperemos que, tal como recomenda a sabedoria popular, quem manda - e quem irá mandar, num futuro próximo - saiba não só guardar o que sobra, em tempo de vacas gordas, como também administrar cautelosamente essas poupanças, quando chegar o tempo das vacas magras.

Paulo Reis

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