8.10.08

Sexta-feira, 3 de Outubro de 2008

Acções da Las Vegas Sands desvalorizam 13 por cento num só dia

Financiamento difícil

A perspectiva de abrandamento das receitas do sector do jogo em Macau está a influenciar negativamente o valor das acções da Las Vegas Sands, de acordo com a revista americana "Business Week"

Só na passada quarta-feira, 1 de Outubro, as acções do grupo caíram 13 por cento, depois de a Standard & Poor´s ter anunciado que a empresa de Sheldon Adelson se mantinha em risco de baixar de lugar no rating que serve de referência aos investidores, devido ao momento de incerteza que a indústria do jogo atravessa nos Estados Unidos, bem como à previsão de diminuição dos seus lucros em Macau.
Para fazer face à continua desvalorização das acções, o presidente e fundador da Las Vegas Sands viu-se obrigado a investir do próprio bolso cerca de 475 milhões de dólares, para reforçar a liquidez da empresa.
Os problemas de financiamento com que se debate Sheldon Adelson estendem-se, também a outras empresas do sector. Os principais operadores de casinos em Las Vegas estão a pagar a factura da crise financeira norte-americana, tendo visto a cotação das suas acções cair cerca de 70 por cento, em pouco menos de um ano. saleinta, por seu lado a agência Bloomberg.

Wynn renegoceia créditos

Contudo, não são apenas as consequências do aumento do preço dos combustíveis e de bens de primeira necessidade nos Estados Unidos a preocupar o sector do jogo. De Macau, as notícias de restrições à emissão de vistos de entrada no território, por parte das autoridades da chinesas, apontadas como factor para a quebra de 6,7 por cento no lucros que os casinos registaram nos primeiros sete meses de 2008, fizeram soar o alarme no sector do crédito.
A diminuição das receitas provenientes do território obrigou Stephen Wynn a renegociar com a banca novos prazos para os empréstimos contraídos, de forma a suportar o investimento realizado nos projectos que o grupo tem previstos para o COTAI, refere a "Business Week".
Situação semelhante vive a MGM Mirage que, de acordo com a revista norte-americana, se debate com problemas de financiamento para o mega projecto CityCenter, que envolve um investimento de 3 mil milhões de dólares. Os problemas no funcionamento podem obrigar a MGM ter que a adiar os planos que apontavam o final do próximo como data para a conclusão do projecto.

Governo da RAEM confiante no "bom desenvolvimento turístico” do território

China aumenta restrições nos vistos


As autoridades da China Continental aumentaram as restrições na emissão de vistos aos turistas de Guangdong que pretendem entrar em Macau. De acordo com a edição de ontem do South China Morning Post (SCMP), os visitantes ficam limitados a um visto de entrada de três em três meses. O matutino de Hong Kong explica que a acção foi tomada “silenciosamente” e que surge no seguimento de outras restrições que têm vindo a ser adoptadas desde Junho passado, com repercussões no abrandamento do crescimento da economia local.
A notícia do SCMP foi avançada ontem, apenas um dia depois de o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Chui Sai On, ter afirmado à imprensa de Macau que o Executivo da RAEM não tinha conhecimento de nenhuma informação sobre o aumento das restrições à emissão de vistos individuais. Salientando que “o Governo Central tem apoiado a diversificação e o desenvolvimento sustentável do turismo” local, o secretário referiu, contudo, que Macau “vai seguir as directrizes do 11º Plano Quinquenal de Desenvolvimento Social e Económico e o caminho da diversificação”.

Correcção

Na véspera, dia 30 de Setembro, o Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, tinha revisto em baixa as previsões governamentais quanto ao desenvolvimento económico de Macau, admitindo que o território será afectado pela crise financeira.
Francis Tam, que recentemente tinha apontado um crescimento económico para o corrente ano de 15 por cento, disse que face às mudanças no mercado internacional, nomeadamente nos Estados Unidos, Macau não deverá crescer mais do que 10 por cento, em 2008.
O secretário para a Economia explicou que a grande preocupação do executivo de Macau está concentrada em "manter uma taxa de desemprego baixa entre os trabalhadores locais", mas admitiu um crescimento do desemprego nos próximos meses.
Com esse objectivo, o executivo está a "efectuar estudos sobre as medidas mais eficazes para a importação de mão-de-obra, sendo que para alguns sectores serão adoptadas medidas rígidas na reestruturação das quotas de importação de trabalhadores".
Até à hora de fecho desta edição, não houve qualquer reacção do Governo de Macau à notícia do jornal da região vizinha.
Ainda de acordo com o SCMP, as novas restrições foram colocadas em vigor esta semana. Até à passada terça-feira, aos turistas de Guangdong eram concedidos vistos de dois em dois meses, que lhes permitiam ficar sete dias em Macau. As medidas recentemente aplicadas obrigam a que um visitante da província vizinha tenha que aguardar três meses para poder voltar a entrar no território.
À semelhança de politicas adoptadas anteriormente em relação à RAEM, as restrições desta semana parecem ter sido transmitidas oralmente, sem qualquer documento que indique explicitamente as intenções dos governantes da China. O SCMP cita agências de viagens de Cantão e de Shenzhen que dizem ter sido informados por funcionários dos serviços de Imigração.
Zhang Yao, gestor do China Travel Service em Cantão, explicou ao jornal que o número de residentes daquela cidade que visitam Macau tem vindo a diminuir, adiantando acreditar que a situação se deve agravar, no futuro próximo. “O número de pessoas em viagens de grupo a Macau durante o mês de Setembro diminuiu quase para metade [comparativamente com Agosto]”, exemplificou o operador.

Governo sereno

Mas o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, em declarações divulgadas no passado dia 1 de Outubro, mostrou-se “convicto no bom desenvolvimento turístico” do território, referindo que o número de visitantes tem vindo a subir, de Janeiro até Agosto do corrente ano. No entanto, as autoridades vão avaliar de forma global os dados e definir os planos em consonância com o desenvolvimento do sector, acrescentou o governante.
Questionado pelos jornalistas acerca do impacto da crise económica mundial sobre a indústria do turismo, Chui Sai On reconheceu que Macau não deverá ficar imune, mas realçou que o Governo vai avaliar a situação de acordo com “a realidade e a conjuntura económica”. O secretário assegurou também que “o Governo vai incentivar a diversificação nos sectores das convenções e exposições, indústria, património cultural e venda a retalho, além de estar a preparar um novo pacote de medidas de apoio que deverá ser lançado no próximo ano”.
A excessiva dependência da RAEM em relação ao sector do jogo tem vindo a ser, nos últimos anos, a principal crítica dos analistas ao desenvolvimento da economia local. Não obstante a intenção assumida do Governo quanto à diversificação das fontes de receitas, certo é que os casinos continuam a ter um papel que, para alguns, é excessivamente dominante.
Desde a liberalização da indústria do jogo que o número de turistas tem vindo a aumentar cerca de 20 por cento ao ano. Apesar das restrições lançadas em Junho último, as receitas dos casinos aumentaram 42,2 por cento para 9,2 mil milhões de patacas, números referentes a Julho passado em comparação com o mês homologo do ano anterior. Dados do mesmo mês indicam um aumento de 29,9 por cento de turistas oriundos da China. Em Agosto verificou-se uma quebra, com um crescimento de apenas 10,9 por cento comparativamente com o mesmo mês de 2007.
O South China Morning Post cita o académico Larry So Man-yum, professor do Instituto Politécnico de Macau, que entende que as restrições adoptadas pelas autoridades chinesas revelam a séria preocupação de Pequim em colocar um travão no desenvolvimento dos casinos do território e na limitação da saída de capitais do Continente.

Protestos tranquilos

As amnifestações sobre questões laborais realizados durante as celebrações do 59º aniversário da República Popular da China em Macau tiveram uma fraca adesão. Associação Democrática de Empregados da Construção Civil e do Jogo, Associação Conjunta da Força dos Operários, Associação Conjunta da Força do Povo e Associação Conjunta dos Trabalhadores foram os grupos que saíram à rua, no dia 1 de Outubro, em manifestações que decorreram de forma pacífica, sempre acompanhadas pela polícia.
Entre 50 a 300 pessoas, dependendo da associação que se manifestava, foram os números calculados ao longo do dia em cada protesto, números bastante diferentes dos conseguidos em anos anteriores, quando a contestação ao Executivo era mais evidente.
Habitação pública, diminuição dos trabalhadores não-residentes, combate ao trabalho ilegal foram alguns dos temas das manifestações que terminaram todas na sede do Governo, com a entrega de várias reivindicações em cartas das associações organizadoras das manifestações.
Com eleições à vista, em 2009, tanto para a Assembleia legislativa como para a liderança do Executivo da RAEM, criada a 20 de Dezembro de 1999, os protestos começam também a ser o grande palco dos testes de poder das diversas associações populares e aproveitados para marcar posições de peso no universo eleitoral local.

Serviços de Saúde esquecem língua portuguesa

Alarme chega aos pastéis de nata

Uma empresa japonesa começou ontem a retirar do mercado um produto designado por "Macau Egg Tarts" - a habitual designação em inglês dos pastéis de nata

A Kanematsu Corporation anuciou ontem ter detectado vestígios de melamina num produto pré-fabricado e congelado, cujos fabricantes não são identificados. A empresa referiu apenas, num nota à Imprensa, que esse produto era fabricado na província chinesa de Guangdong. Testes efectuados pela própria empresa revelaram "leves traços" de melamina nas embalagens de 18 "Macau Egg Tarts" comercializadas no Japão.
A Kanematsu garantiu, no entanto, que as quantidades detectadas são mínimas e não colocam qualquer risco para a saúde dos consumidores. De acordo com aquela empresa, a sobremesa foi retirada do mercado por precaução e não foram registadas, até agora, quaisquer queixas de consumidores, no Japão, relacionadas com o consumo das chamadas "Macau Egg Tarts".

Informação escassa

Até ao final de Setembro, a página oficial na Internet dos Serviços de Saúde de Macau não continha qualquer tipo de informações em português sobre os produtos contaminados com melamina. As informações na língua de Camões foram disponibilizadas apenas através de comunicados do Gabinete de Comunicação Social. Só a 1 de Outubro, já depois de a Lusa ter alertado para esta situação, os Serviços de Saúde de Macau disponibilizaram informações português na sua página electrónica - www.ssm.gov.mo . São sete breves comunicados onde se dá conta dos resultados de outras tantas séries de testes que aqueles serviços efectuaram a vários produtos lácteos.
Em relação aos produtos que as autoridades mandaram retirar do mercado, como por exemplo o chocolate de leite M&M´s, ou sobre a decisão da empresa anglo-holandesa Unilever em colocar fora dos circuitos comerciais de Macau e Hong Kong o chá com leite em pó da marca Lipton, depois de terem sido detectados neste produto vestígios de melamina. não é visível informação detalhada na referida página.
Os cidadãos que queiram procurar outro tipo de informação terão que o fazer na página oficial do Gabinete de Comunicação Social que, desde o início da crise do leite, disponibilizou diversas comunicações em português e vai colocando alguma informação na área do seu "site" acessível à população em geral.
No entanto, em nenhuma página do executivo de Macau está disponível uma lista completa dos produtos testados, sem traços do composto químico e dos que foram identificados como contendo melamina, o que deixa os consumidores confusos e sem garantias de segurança, em relação a muitos produtos que estão à venda no mercado. Em Hong Kong, o governo disponibilizou na sua página na Internet um "link" especial disponibilizando informações de um centro de segurança alimentar, em chinês e inglês, e actualizado diariamente.

China suspende exportação de produtos lácteos

As autoridades chinesas recolheram "por precaução" leite em pó vendido no estrangeiro, embora todos os produtos lácteos sejam já seguros, afirmou um responsável do Ministério da Saúde, citado ontem em Pequim por uma fonte diplomática.
Já anteriormente, um responsável governamental japonês afirmara que, na passada terça-feira, a China revelara a vários diplomatas ter suspenso as exportações de produtos lácteos até que a sua segurança estivesse garantida.
Nesse mesmo dia, 30 de Setembro, ocorreu em Pequim uma reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros com diversos embaixadores e um dos vice-ministros da Saúde, para analisar questões relacionadas com a crise do leite em pó contaminado com melamina que, além de ter provocado a morte a quatro bebés, desencadeou uma vaga de proibições ou aumento do controlo dos produtos lácteos chineses, no estrangeiro.
Durante a reunião, "foi indicado que as autoridades chinesas recolheram leite em pó como uma simples medida de precaução, sabendo que, depois de 14 de Setembro, qualquer produto (lácteo chinês) responde às normas de segurança alimentar", disse a mesma fonte diplomática, sem precisar, no entanto, se esta medida englobava todos os produtos que continham leite em pó - rebuçados, bolachas - ou apenas o próprio leite em pó.
A propósito da mesma reunião, um responsável governamental japonês, que não quis ser identificado, já informara Tóquio da decisão chinesa em suspender todas as exportações de produtos lácteos.
"O ponto que é destacado é que o governo chinês se ocupou rápida e seriamente desta questão, tendo já tomado medidas para suspender as exportações de produtos lácteos, que não serão retomadas até que a segurança esteja completamente garantida", declarou o mesmo responsável japonês.

Editorial

Coordenação

Pouco depois de um membro do Governo de Macau ter referido, publicamente, que desconhecia qualquer intenção do Governo central em avançar com restrições à emissão de vistos individuais, a Imprensa de Hong Kong anuncia que a decisão já está a ser aplicada.
De acordo com o South China Morning Post, as agências de viagens do continente já teriam sido informalmente alertadas, em relação às novas regras, bastante mais restritas que as anteriores.
A ser correcta a notícia, os turistas provenientes do continente apenas poderão visitar Macau uma vez, de três em três meses. Não será, naturalmente, de um dia para o outro, mas esta substancial redução na regularidade das visitas terá reflexos no número de jogadores que, por enquanto, ainda enchem as salas de jogo.
E isto acontece quando o crescimento da receita proveniente daquele sector dá os primeiros sinais de abrandamento, depois de anos de expansão.
Antes da divulgação da notícia, já os mercados financeiros internacionais tinham enviado sinais negativos, relacionados com o crescimento económico de Macau.
Várias empresas norte-americanas, com grandes investimentos nos casinos locais, recorreram recentemente à banca ou a fundos próprios dos principais accionistas, para aumentarem a sua liquidez.
O facto de um responsável governamental do território afirmar que desconhece qualquer intenção de Pequim em alterar a sua política de vistos, pouco antes da notícia citada vir a público, poderá significar apenas que o jornal de língua inglesa do vizinho território avançou em terreno escorregadio.
Mas a confirmar-se a notícia, isso levanta interrogações legítimas sobre o actual grau de coordenação entre as autoridades centrais e o Governo da RAEM. Poderá estar-se perante um caso de simples atraso, na transmissão de informações entre entidades oficiais, um processo sempre algo burocrático. Esperemos que tenha sido esse o caso. Ou que a notícia seja desmentida, rapidamente.

Paulo Reis

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